O Tambor (1979). Revisitando os Tempos Coléricos

o-tambor_1979_capa
Postado originalmente no Cinema É A Minha Praia, da Valeria Miguez, Lella, a quem agradecemos muito pela hospedagem do artigo e pelas dicas de diagramação.

Gunter-GrassNestes tempos de cólera, como diria Garcia Marques, nada melhor do que um filme para pensar, para refletir sobre o ambiente soturno que assola a todos. A recidiva das ‘soluções mágicas’ não é atributo exclusivo dos trópicos. Antes fora! Este filme, O Tambor, (Volker Schlöendorff, 1979 Die Blechtrommel, Tin Tambor, Tambor de Lata, literalmente), baseado na obra de Günter Grass ( 16 October 1927 — 13 April 2015), parte da Trilogia de Danzig (hoje Gdańsk), cidade de nascimento do escritor, cidade esta que, não só por ser onde nasceu e viveu grande parte de sua vida, mas por vir esta a assumir importante papel no desenrolar das duas grandes guerras (a propósito, não esqueça o fato de o Solidariedade ter nascido ali).

O filme, a exemplo da obra magnífica de Grass, percorre toda a epopeia da família de Oskar, começando pela perseguição a seu avô, ainda nos estertores do século anterior, sendo este abrigado (literalmente) embaixo da saia daquela que viria a se tornar sua avó, Anna Bronski, centrando-se na primeira década do século XX, até a década de 30; mostra a ascensão do nazismo em toda a Europa e seus desdobramentos na vida de Oskar Matzerath (se você, por um momento, se lembrou de Amarcord, não estranhe. Há momentos em que as duas obras se parecem entrelaçar, mesmo que o prisma de ambas difira. Felinni fazia uma retrospectiva bem mais intimista e menos engajada, mesmo quando expõe o fascismo dos ´30), um menino aparentemente normal, mas que, em represália aos costumes (ou ao nazi-fascismo) se nega a crescer.

o-tambor_1979_02O filme mostra um Oskar perturbado pela infidelidade de sua mãe, com seu [dela] primo, mas, nas entrelinhas, fica claro o ambiente plúmbeo que grassa sobre toda a cidade de Danzig. A mãe de Oskar, Agnes, engravida, possivelmente de seu primo, Jan. Ela jura que não terá aquele bebê, pois lamenta a gravidez incestuosa (novamente, o expectador fica em dúvida se a razão da rejeição de Agnes não é pela condição política, extremamente desfavorável, pois não há provisões nem segurança para ninguém). Agnes morre. Sua morte se dá de forma nebulosa, confusa. Mesmo no sepultamento, veem-se os movimentos políticos, pró e contra os descendentes de judeus. Neste intercurso, mostram-se aos poucos os primeiros movimentos com vistas a uma resistência. Neste ínterim, Alfred, a quem Oskar odeia, claramente, contrata uma jovem para ser “dona de casa”. Oskar logo se interessa por Maria. Problema é que Alfred também e é ele quem se sucede no relacionamento, chagando a casar com a “housekeeper”, para desespero do pequeno Oskar. A tensão aumenta, é claro. Prestem atenção na cena em que Oskar tenta matar o futuro filho de Maria, com uma tesoura.

Ciúme, remissão ao Ovo da Serpente, ambos? O que me dizem? Igualmente remarcável é a cena em que a Armada russa invade a mercearia de Alfred e este tenta esconder seu “pin” nazista, na boca. Engasga-se, claro. O soldado russo interpreta como agressão e o mata, para felicidade de Oskar. No funeral de Alfred, um evento faz Oskar crescer. Nada diremos, pois é uma análise diacrônica, e não um “spoiler”!

Veja e reveja O Tambor. Vale demais. Pela beleza da obra, bem como para entender aqueles conturbados tempos (e os d´ora, pois).

Günter Grass é tido, na Alemanha, não só por ter sido laureado com Nobel e com várias outras comendas, como o mais importante escritor, depois de Göethe; nada mal para um alemão que nunca se furtou em colocar o dedo na ferida aberta do nazi-fascismo.

O Tambor (Die Blechtrommel. 1979)

Ficha Técnica: na página no IMDb.

8 ideias sobre “O Tambor (1979). Revisitando os Tempos Coléricos

  1. Bruno

    Prezado Morvan, assisti esse belíssimo o filme agora em 2020. Grato pela resenha!
    Deram o golpe em 2016 e estamos próximos de mais um ainda essa ano. Tempos sombrios…

    Resposta
  2. Pingback: Invasores De Corpos, 1956 — Alienígenas, Nós? | Blogue do Morvan

    1. Morvan Autor do post

      Boa tarde.

      Valéria Miguez (LELLA) (22 de julho de 2015 às 15:54):

      Feliz por você ter gostado!“.

      Cara Valéria Miguez, sou eu quem agradece. Não só pelo espaço concedido, mas pelo que aprendi. Isso é o que fundamenta a nossa jornada. Aprender constantemente.

      Saudações “O Pré-Sal É Do Povo Brasileiro; Vamos Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás; sem Controle do Judiciário, o Brasil será eternamente uma Fábrica de Golpes“,
      Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

      Resposta
        1. Morvan Autor do post

          Boa noite.

          Valéria Miguez (LELLA) (22 de julho de 2015 às 17:28):

          Morvan! É muito bom em trocar conhecimentos! 🙂“.

          Cara Valéria Miguez, idem. 🙂

          Saudações “O Pré-Sal É Do Povo Brasileiro; Vamos Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás; sem Controle do Judiciário, o Brasil será eternamente uma Fábrica de Golpes“,
          Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

          Resposta

O Blogue se reserva no direito de não publicar Comentários quando chulos, fora do tópico e | ou possa conter SPAM.