
Passado o sufoco do segundo turno da eleição presidencial, preparávamo-nos para o inexpugnável terceiro turno, aqui e em toda a América do Sul. Só não nos era, penso, possível, então, antever a ferocidade deste, mesmo que as eleições, no Brasil, desde 2010, tenham se tornado mais e mais atrabiliárias, com a direita se tornando, a cada dia, a pitonisa do golpe, fosse qual a modalidade, clássico, ou em sua modalidade mais “moderna”, judiciário, a la Honduras.
Desde aquelas eleições, como dizíamos, a direita “virou a mesa”, com o carteado já distribuído, supõe-se, sabedora do seu desfavor, vindoiro, no jogo. “Convocaram” o então Papa, o bispo não sei d´onde, mandando ao inferno, literalmente, as conquistas, até aqui, do Estado laico. A questão do aborto virou estratégia eleitoral, não funcionando, ao final, para os “ungidos” por estes terem praticado os “crimes” aludidos. Tragicômico, surreal, mesmo no Brasil.
A imprensa mundial tratou também de dar sua contribuição, “despida de qualquer interesse” no jogo, com as revistas da banca internacional entrando de corpo e alma (por assim dizer…) na disputa, sempre de modo “democrático” e “isento”.
Com a chegada (anunciada) do terceiro turno, tivemos um grande retrocesso institucional, no Brasil. Processo, lembre-se, iniciado em 2005, com a pantomima do mentirão, digo, mensalão e afunilado neste último terceiro turno. Os avanços institucionais se diluíram na sanha golpista e nos remete a um passado recidivo. Tudo parece um filme a se repetir.
O divisor de águas da quebra na inflexão federativa que parecia se desenvolver, no Brasil, aparenta ser o caso do Grampo Sem Áudio (sic!). A partir dali, experimentamos, concomitante com um protagonismo espúrio e crescente das instituições que deveriam ser fiscais da Lei ou, no mínimo, zelar pela sua observância (MP[E|F], PF, STF, etc.).
Se Umberto Eco tem razão em dizer que as Redes Sociais empoderaram o imbecil fundamental, no Brasil, terra de extremos, as tais armadilhas digitais deram vez ao midiota mais perigoso de todos, pois além da pouquíssima qualidade educacional, é um tipo que se reconhece historicamente por repelir os rótulos. É um tipo que não aceita ser chamado de golpista. Tanto que criou o malabárico conceito da “Intervenção Militar Constitucional”. Fruto destes tempos rábicos são, por exemplo, as passeatas pedindo o golpe, mas sem golpe, por favor. Mulheres com faixas defendendo o feminicídio (não lhes pergunte o sentido da faixa. Elas apenas estão protestando contra “algo”…); faixas protestando contra excesso de Paulo Freire nas escolas, bem como projetos de lei proibindo doutrinação marxista nos mesmos estabelecimentos! Aqui, a simultaneidade dos protestos e do projeto da direita estragaram a espontaneidade e acontece o mesmo com as faixas portadas pelas mulheres: não pergunte ao midiota portador de tais faixas quem foi Paulo Freire. Uma pergunta destas é uma indelicadeza…
Já em 2013, teve promotor público, pago com o erário, fazendo apologia do crime: Mate um petista e arquivamos o inquérito. Mais direto, impossível. O apologista criminal utilizou o FaceBook, esta máquina de criar lobotomizados, para alardear o seu próprio crime.
Agora, passado o Mensalão, Operação Vaza A Jato, digo, Lava A Jato, temos o desmonte completo da indústria, mormente a de ponta, brasileira, além de a tal de Vaza A Jato só terminar quando o seu títere, o sr. Moro, juiz de primeira instância, mas com poder sobre todo o arcabouço institucional, conseguir o seu intento, que é, de qualquer modo, destruir o PT, a Petrobrás, o Brasil e prender o seu (de toda a direita) inimigo figadal, Lula, o Nêmesis. O que vier primeiro destes eventos.
Os poucos que diziam que a reforma do gangrenado Poder Judiciário seria prioridade, sabiam que esta reforma seria sine qua non. Sem ela não haveria possibilidade de avanço, pois este poder sempre foi o mais recalcitrante a qualquer avanço social e foi o grande coonestador do regime militar.
E também dizíamos que sem educar o povo este mesmo se voltaria contra seus defensores. Só pão, sem educação, nunca funcionou, aqui e nem algures.
A esquerda (pense esta palavra com certa amplitude) brasileira tem grande culpa no nosso retrocesso; em vez de preparar as pessoas, fazia-se omelete no cafofo da serpente. Em vez de incentivar a mídia alternativa, foi-se a rapapés das famílias midiáticas.
Hoje, quando se vê ministra (caixa baixa intencional) do stf (idem) utilizando, ironicamente, motes da esquerda para punir os inimigos da casa grande; quando se assiste à pantomima de ministra (idem!) reconhecendo não haver elementos para condenar, mas, a despeito, ela o faria, quando se vê organização paramilitar dentro do Estado, conspirando contra a Presidente, organizando-se politicamente, com estrutura estatal, em prol do candidato derrotado, instituições estatais mancomunadas com órgãos de imprensa, engajados em causas nada federativas, a esquerda tem de fazer um rotundo mea culpa. Somos partícipes, pela omissão, que o seja, mas o somos.
Quando se vê, idem, ministro de Estado apoiando projetos lesa-pátria da direita, não é tão estranho assim, desde que ele não permaneça. O sr. Levi, ao defender projetos do nefando Serra e de outros inimigos do país, está fazendo o seu jogo. Quem está jogando contra é quem o mantém.
Para não dizer que não falei das flores, vivam os estudantes das escolas públicas paulistas, aqueles que lutam bravamente contra a privatiz., digo, normalização das escolas. Estes, sim. Têm coração valente e desejam uma pátria realmente educadora. Sem “normalização”. Parabéns a estes jovens. Vós sois, de fato, a esperança.