Arquivo do autor:Morvan

Sobre Morvan

Técnico em Atendimento - Seplag Pedagogo; especialista em Orientação Educacional Especialista em Recursos Humanos e Psicologia Organizacional Autodidata em Informática e Eletrônica Apaixonado por músicas clássica e chorinho

Brizola, CIEP’s, A Miopia Eterna Da “Elite” E A Necropolítica


Artigo publicado originalmente no Vi O Mundo (acesse Aqui), a quem agradecemos por mais um precioso espaço concedido.

Passada a eleição mais suja da história do Brasil, na esteira de um golpe de toga (basta dizer que superou a de 2010, onde a presença do Nosferatu da política brasileira bancou a baixaria, então), é preciso manter a narrativa de que o inferno é o outro.

Eleição “ganha” no arrastão das fake news, da Farsa Jato, do discurso e do incentivo ao ódio e da facada perene e salvadora do fascismo.

Perdemos muita gente para o ódio. Marielle, Mestre Goa, etc., e agora a menina Ágatha Vitória (impossível não lastimar o infeliz trocadilho no nome dessa inocente vítima do fascismo).

Com o clamor da morte da menina, não falta quem lhe diminua a importância, pessoa e fato, atribuindo a sua morte a um “acidente”.

Bom, num país onde um governador sai de helicóptero à cata de vítimas, acidente é um termo, na melhor das hipóteses, infeliz.

As explicações estapafúrdias dos defensores da necropolítica pululam por aí, e a mais “original”, sem dúvida, é a da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).

Na ânsia de justificar a carnificina em cima das pessoas menos favorecidas, a parlamentar saiu-se com essa:

“A política do “não-confronto”, adotada por Brizola e seguida por TODOS os sucessores dele até o Pezão, foi o que gerou esse caos na segurança do Rio. Esses governadores simplesmente largaram o estado nas mãos dos traficantes”.

Ora, nada mais disparatado. Brizola, com seus CIEPs, confrontou o pior bandido que existe: a desigualdade, agravada e perpetuada pela ausência do Estado.

Os CIEPs eram tão acertados que foram duramente combatidos pela mídia.

Combate esse, como sói, sem qualquer traço de civilidade e com a marca da classe dominada brasileira, eterna sacripanta.

Ou seja, nossa “elite” sempre destrói o que não concebe e os fins justificam os meios.

Destruíram os CIEPs, com eles a imagem de Brizola e, na esteira, o Rio de Janeiro, hoje totalmente dominado por milícias.

O golpe de 2016, não devemos esquecer, vem no roldão.

Para destruir Lula, destruiu-se o Brasil, quebrando sua indústria pesada, promovendo desemprego em massa, colocando no poder o que há de mais bizarro, odioso e execrável.

Os sacripantas venceram (não em sua totalidade, pois Lula se mantém como um totem de luta de um povo e alcança, como nunca, projeção mundial como preso político do século).

Foi a destruição dos CIEPs e de Brizola, idem do Rio de Janeiro, quem concebeu essa leva de doidivanas que nos “representa”, não o contrário, sra. Deputada. Vossa senhoria, inclusive.

Foi o sistema midiático brasileiro que pôs na política estes teratos que a senhora encarna, e, pasmem, vilipendiando a política, fato comum em época de ascensão fascista.

“Ninguém quer que inocente morra. Mas erros INFELIZMENTE acontecem. A culpa NÃO É DA POLÍCIA, que só REAGE aos bandidos, defendidos pelo antro da sociedade”

No caso, sra. deputada, não foi um mero erro. É política de extermínio, mesmo.

Ver um Governador dando pulinhos de alegria, comemorando carnificina não é erro, é necropolítica. É pena de morte, para os menos favorecidos.

Velho Brizola, árduo defensor da Escola em Tempo Integral, da vida, da Educação, morreu defendendo seus valores e não é justo que os odiosos desmereçam o grande político.

Aliás, os inimigos de Brizola (e do Brasil, historicamente) precisaram destruir tudo, Rio de Janeiro junto, para fazer não prosperarem os CIEPs.

Quantos presídios não precisariam ser construídos para cada CIEP?

Impossível dizer, mas é possível inferir que quem cria escolas e lá põe crianças, alimenta-as, educa, está a formar cidadãos e é projeto de longuíssimo prazo.

Enxergava longe, o velho gaúcho.

A miopia da “elite” brasileira, por seu turno, parece sem fim.

Morvan Bliasby, pedagogo. Trabalha como técnico em Gestão de Pessoas no Serviço Público (Seplag – Ceará).

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Ambrosinha E A Escapada Escatológica

Como em todo local, no meu trabalho existem as figuras, aquelas que conseguem fazer a vida ser suportável. Aquelas que não arrefecem ante qualquer dificuldade. São pessoas que desdizem facilmente a equivocada ideia de felicidade derivada do padrão de vida. Uma delas é Ambrosinha. Pessoa simples, amiga, sorridente. Todo dia a guapa tem histórias e causos e faz questão de disseminá-los na Pasta.
Pois bem. A última da nossa figura foi o caso do motel. Ambrosinha foi ao estabelecimento com seu consorte. Segundo ela, foram ambos de bicicleta. Ela a carona.
Uma vez no casulo idílico, adentram no prólogo do que seria um dia de ardência e afeto.

Ambrosinha, por algum motivo, desiste no meio do romance; perguntou-se (tem sempre um bandido que faz estas perguntas jocosas) a ela qual a razão do refugo. Seria algo que não lhe agradou, seria o cara “Coca-Cola Litrão“, ou, ao contrário, “Anzol“? Risos gerais.

Segundo ela, seu D. Juan, alegando dor de barriga (sim, isso mesmo), vai ao banheiro. Ela aproveita para picar a mula dali, se escafeder de vez.

Sai Ambrosinha a pé. Deixa o consorte sozinho, resolvendo seus problemas peristálticos. Próximo de uma Avenida, um homem a aborda, num carro:

— “Ambrosinha, o que fazes aqui?”. Era o Secretário da Pasta, cujo itinerário passa pelas imediações; ela responde, incontinenti:
— “Tou vindo do motel aqui pertinho.”.

O Secretário, dada a intimidade, pois esta lhe atende no Gabinete, pergunta, em tom de surpresa?
— “É? Pois vamos para o trabalho aqui comigo. E o namorado, que é dele?”.

Ela responde, sem perder a tramontana:
— “Ficou lá no motel. Tava cagando.” (Sic!).

Bom, nada restou ao Secretário senão pedir ao motorista que conduzisse o carro. E arranjar fôlego para tanto riso. Ambrosinha ao lado, fornecendo detalhes do seu tórrido (ou não), escatológico encontro.

Infames Acusações Contra Lula, Grande Estadista, Não Destruidor!

Texto originalmente postado no Vi O Mundo (Acesso Aqui), a quem agradecemos, mais uma vez, pelo preciosíssimo espaço concedido.
Lula Presidente - WikipediaSobre o texto do eminente articulista Wanderley Guilherme do Santos,  postado No Vi O Mundo (Prioridade de Lula é esmagar Ciro), tecerei uma pequena digressão e tentarei, por mais que difícil possa, me ater ao tema.

Via de regra, não comento textos desses naipe, onde, num gesto descompensado, desproporcional, odioso e ad hominem, o articulista tenta imputar ao aludido as mazelas e diatribes eventualmente sofridas pelo eventual agredido, quando, na verdade, o pretenso aludido se desqualificara a cada declaração ou gesto.

Ora, sou tão cearense quanto o palrador Ciro. E conheço seu jeito de governar. Mas não me deterei nisso, haja vista tentar, mesmo lançada a isca da discussão sem propósito, evitar a destruição de reputações.

Basta dizer que o sr. Ciro Gomes nada fez para se contrapor à prisão injusta, covarde, cretina e claramente golpista de Lula. Pelo contrário, até coonestou-a.

Quem agiu de má-fé fora Ciro, sempre, e não Lula.

Quisesse  e | ou tivesse discernimento e honra, teria lutado por Justiça, pelo Devido Processo Legal, ilustre ausente, sempre, e não para tirar alguém do páreo, pária se mostrando. Homens lutam por ideias, jamais por dividendos de qualquer monta.

Fora Ciro quem se desnudara, sr. Wanderley.

Não inverta as coisas, à guisa de fidedignidade perante a história. Lula padece de todos os defeitos de um político, haja vista sê-lo e em um país onde sem [e mesmo com] coalizões seja impossível se governar.

O Lula conciliador é, antes de tudo, uma necessidade e algo que o forjou, ao cabo. Noutras ocasiões, além de conciliador, como se já falara, transbordou de boa-fé (a tal de Lei da Ficha Limpa [dos tucanos] que lho diga, bem como a investidura em funções no Golpiciário de pessoas sem a menor integridade moral para tanto…).

Mas ninguém pode lhe imputar de destruir pessoas, reputações, conspirar. Isso não é do conciliador Lula.

Quem sofre LawFare é Lula e quem não combate ilegalidades é o maior dos pecadores; é omisso e prevaricador.

A verdade vencerá, sr. Wanderley.

Ajudemos Lula, fiquemos do lado certo da história, pois, malgrado se possa pensar em maniqueísmo político, ora no Brasil, combater as agressões aos direitos básicos é revolucionário.

Nosso inimigo é quem nos suga o Pré-Sal, Alcântara, destruiu nossa indústria naval, fez água ao acordo de transferência de tecnologia com os suecos, perdoa dívidas milionárias de bancos, etc., não Lula.

Conclamando a combater do lado certo, como faz D. Marluce.

Adeus Às Ilusões Ou Ao Estado Social

Adeus às Ilusões (Foto)Vivemos época conturbada, aqui, algures. Ninguém está a salvo do maior desmonte civilizatório do qual se teria ciência, acontecendo ora, sob nossos olhos, cientes ou não. Sim, por que, na aparente distante Idade Média, onde o homem teria uma expectativa de vida de vinte e oito anos, situação que, claro, precede os Estados Nacional e Social, onde um simples ferimento em uma ordenha ou na doma de um cavalo, por exemplos, seria fatal, não havia meios de combater doenças simples, até a descoberta da Penicilina e a criação de Sistemas de Saúde Pública é um longo e tortuoso percurso.

Os Estados, em suas clássicas modalidades, são uma conquista civilizatória fundamental. Com eles se deu o arcabouço de proteção à pessoa humana, o verdadeiro antropocentrismo, quando passamos de meros produtos divinos a seres dotados de direitos basilares. Estado Secular, desvencilhado de todo e qualquer fundamentalismo.

Agora, tudo parece ruir. Estes são obnubilados pelo neoliberalismo e sua tática antinacional para alimentar as corporações, a Globalização. O Sistema Financeiro não encontra limite territorial, linguístico, ético; tudo se transforma em corporativismo e empobrecimento da humanidade, com a concentração de renda galgando índices sem paradeiro. Ricos muito ricos e legiões de famélicos sendo massacrada pelos pouco hospitaleiros “Estados”. Gente morrendo aos borbotões, tentando fugir desesperadamente de suas condições sociais gritantes em seus países de origem.

A Criação - MichelangeloA democracia, outrora, mesmo formalmente, servia de aglutinador social. De cola para os conflitos. Agora, os Estados desnacionalizados utilizam a repressão para refrear qualquer tentativa de denunciar o próprio anti-Estado. A mídia, cooptada pelos rentistas, torna-se arauto do novo deos, o Merchatus. Os Poderes Judiciários nacionais transformados em meros coonestadores da barbárie humana. Ordenamentos Jurídicos, Organizações de Direitos Humanos em ruínas.

Ora, hoje se tem uma expectativa de vida bem maior, mas tenta-se apenar a humanidade por isso, reduzindo o direito ao usufruto das aposentadorias; é universal a ideia de tratar o homem como mula (não que elas não mereçam ser tratadas com dignidade). E o próprio trabalho está ameaçado. Não só pela tecnologia digital, que é parte preocupante (a Inteligência Artificial pode reduzir as oportunidades de trabalho, sem alerta ludista; e pode nos erradicar, também), mas pela própria escassez advinda do desmonte estatal.

O tragicômico de tudo é que correntes obscuras tentam dizimar a humanidade, para haver recursos para os restantes, segundo seus pressupostos; não se pode alegar malthusianismo. Ele apenas preconizava, não defendia “soluções drásticas, finais”. Antes de recorrer a essas teorias fascistoides, mister que se diga: “Ilumina A Ti“.
Combater a superpopulação dizimando-a, além de cruel, contraproducente e diabólico, é profundamente incongruente, pois as superpopulações são resultado do sobrepujar da ciência sobre as doenças (e sobre a própria obscuridade…). É como pagarmos (bem caro) pela ousadia do conhecimento. Nós Zeus de nós mesmos. Insanamente incongruente.

Haverá saída? Inteligência Artificial, Neoliberalismo, desmonte civilizatório; quem somos nós, qual o nosso propósito? Somos apenas ratos de laboratório? O que pensa você sobre isso?

 

O Papelzinho E A Fragilidade Das Obsoletas Urnas De 1ª Geração, No Brasil.

Urna-Se A nós...

Dentre todos os países que adotam algum tipo de votação eletrônica, o Brasil ainda é quem utiliza o sistema mais vulnerável a fraudes, aliado a uma resistência totalmente sem explicação plausível por parte da Autoridade Arbitral e Organizadora dos pleitos, no Brasil, o TSE.
Antes de qualquer estudo mais profundo, mister se faz que expliquemos algo: o chamado voto impresso não fica em poder do eleitor (se assim o fora, seria a coisa mais fácil do mundo o senhor do engenho saber em quem o “peão” votou e dar-lhe uns pedaços de rapadura ou relhadas, conforme o “voto impresso”). Não. O voto impresso assim se denomina por que o equipamento eletrônico que recebe o voto emite, numa urna em separado, uma comprovação deste. Tal comprovação, além de não ficar em poder do leitor, nem de ninguém mais, só será utilizado para fins de auditabilidade e de verificação de integridade eleitor X voto, ou seja, para evitar as “urnas coelho”, além de outros truques conhecidos do tempo da urna física.

Para ter acesso ao voto da contraprova, o “Paper Track“, a autoridade demandante deve possuir legitimidade para pedir e só a Autoridade certificadora, no caso, os T<R|S>Es podem conceder a demanda, sempre com fundamentação.
Pois bem. O Brasil utiliza urnas eletrônicas de primeira Geração (Aqui, explicação sobre as diferenças entre as Gerações de urnas e auditabilidade). O TSE, além de não atender a decisão congressual, que decidiu pela adoção do Paper Track, numa clara afronta a este Poder, ainda não explicou também por que utiliza um software chamado “Inserator” nas urnas brasileiras. À parte de parecer nome das Organizações Tabajara (antes fosse!), o Inserator é acionado quando, e por quem? Como este software interfere na totalização?

Como explicar à sociedade um Poder afrontar o outro, mesmo em um regime de exceção, como se sabe, impedindo a vontade do legislador?
Em 2014, criamos uma Petição exigindo do TSE a Adoção do Paper Track. Com mais de 70.000 assinaturas, foi declarada vitoriosa, coincidindo, inclusive, com o advento da aprovação, pelo Congresso Nacional, da adoção do “pepelzinho“.

A quem interessa esse sistema de 1ª Geração? Qual a razão da resistência, passando por cima do Congresso Nacional, do TSE na adoção do papelzinho? São perguntas que não calam.

E você, entendeu o que é o papelzinho; que ele não fica com o eleitor? Sua função e por que outros países não aceitam mais as urnas de 1ª Geração?
Se assim o fez, cumprimos parte do nosso trabalho, que é desmistificar o famoso Paper Track. Agora, cada um de nós pode e deve pressionar a Autoridade eleitoral pela sua adoção.

Contos De Um Natal Disruptivo, Cânticos Interrompidos!

Quando será o natal?

Lá nos mais recônditos escaninhos da minha feliz, questionadora e distante infância, eu estava separado de meus irmãos, de mama, do meu nicho; ela no hospital, situação exasperadora. Doença que hoje parece trivial, à época, correspondia à SIDA, em morbidade e em preconceito. Ninguém se lhe aproximava. Mera estatística, minha mãe; no seio da família, lá na fazenda do meu avô, por quaisquer motivos, assunto prevento. Estávamos todos juntos, os netos. Fieira de gente, verdadeiro arco-íris de fenótipos, risos, birras. Uma algazarra que só crianças entendem e apreciam, normalmente.

Maria Socorro, segunda esposa de meu avô, cujo tratamento aos netos, enteados e agregados não permitia a um olhar detectar qualquer diferença de tratamento perante qualquer criança, não nos deixava faltar nada. Era o zelo de uma guardiã. Era nossa mãe postiça e que não deixava que a vida nos fosse “madrasta“.

Era quem nos preparava amiúdes trouxinhas de víveres para nós, os cinco da casa de mama Ivone. Tais trouxinhas de itens básicos eram nossa subsistência, pois mama não tinha condição de trabalhar, ainda, sobrevivente das estatísticas nosocômicas, e era terminantemente proibido fornecer qualquer amparo à minha família núcleo. Misto de moralismo, crueldade e outros sentimentos menores e que, se se sobre eles discorrera, tiraria o sentido da crônica ora.

Mesmo com a convalescença, contra todos os prognósticos, de mama, e sua vinda para uma casa, vivendo espartanamente, junto meus irmãos, fôramos mais mais uma vez separados. Meu avô não permitia que eu vivesse naquele ambiente sofrido, para ele, lúgubre; eu era uma espécie de “eleito”. Meu destino, mais uma vez, a Casa Grande. Meu lugar era junto a toda a pujança. Fartura. Assim se fez. Crianças obedecem ou obedecem…

A noite de natal, na fazenda, era especial por demais. Com uma particularidade: a opulência de alimentos, a verdadeira cornucópia dava lugar a “luxos“. Esqueçam-se os queijos, as aves, o feijão verdinho. Nosso quitute era pão, comum, tipo bisnaga, avis rara por lá, e, pasme-se, refrescos artificiais e refrigerantes. Para a molecada, um banquete.
Quando a grande noite chegou, estávamos reunidos, fez-se a oração ofertória e passamos a deglutir as novidades. Uma algazarra.
Maria Socorro, com voz de fada, entoava e liderava os cânticos. Uma velha vitrola a pilhas dava o mote. Não poderia, claro, faltar o “Noite Feliz”. Ela tirava de peito; voz linda, maviosa. A mãe postiça também se transmutava em colibri. Era versátil. Ah, isso lá o era!

Aquilo tudo me espicaçava. Eu sequer tinha alçado as operações formais, mas, mercê de minha precocidade, com relação a alguns aspectos da vida, já sofria de questionamentos que me perseguem desde então. Ensimesmado, perguntava por que minha mãe e meus irmãos estavam ausentes, o porquê de não usufruírem das benesses. O quê haveriam eles feito, a ponto de serem excluídos? Aquilo me massacrava…

O tempo, frio e lógico, desmontou a voz de Maria Socorro, emudeceu-a. Peremptoriamente. Não se ouvem mais os cânticos, nunca mais pude ouvir sua doce voz a me chamar de “meu filho”, como o fazia, sempre.
E os natais se tornaram opacos e anódinos, para mim. Passar a ver a exclusão de outros entes humanos foi decorrência, fria e inexpugnável. Hoje, que Nicolaus não mais desce a chaminé (e como ele é seletivo!), o período representa o respeito que procuro nutrir pela crença do outro. Nada mais.
É a distopia do bom velhinho. Não. Refiro-me ao natal. Por essa e tantas outras perguntas recorrentes, o “Natal Sem Fome” me traz tanta tristeza. Por entender, também, que os outros dias do ano poderiam ser natal, ops., sem fome.
Choro por aqueles que nunca terão um natal. E mais pelos que nunca ouvirão cânticos nem arpejos natalinos. Mas emboto a visão muito mais pelos que sentirão falta de víveres. Estes, como diz antiga música, talvez nem liguem tanto assim para um natal. Talvez se lhes bastasse um pedaço de pão e um olhar fraterno.
Natais interrompidos, vidas idem. Hoje, me refrigero na lembrança dela, minha segunda mãe e sua voz acalentadora. E estou certo, a la Saramago, que ela viverá enquanto o último de nós a relembrar; natais grises. Natais e reminiscências.

Teixeirinha, Regina E O Dia do “Gorcô, Gorcô”!

Quando na Residência Universitária, tínhamos um amigo, Teixeirinha, que servia de muletas para as frustrações dos gozadores compulsivos. Sim, não poderiam faltar os “defeitos” de Tetê. Como os bolinadores da vida os apreciam, pois são o ponto fraco da vítima: sendo Teixeirinha gago, a “diversão” estava garantida!
Uma noite comum, estávamos a bebericar, conversando ‘potaria‘, e, claro, sobre mulheres e política. Presente à mesa, Valentim, costumeiro algoz de Teixeirinha.
Ele nos avisa:
— “Lá vem o Tetê; vejamos qual a boa de hoje.“.
Chega o supracitado, visivelmente bêbado, o que não ajuda para quem gagueja…
— “P-Pessoal; Eu dei o maior amasso na Regina. Pense num amasso. Dei uns dez beijos nela. Oh m-mulher ´ostosa.“.
E aí o Valentim começa a pedir detalhes: onde foi, como foi. Se o Tetê ‘se garantiu’, etc. E Teixeirinha claudicante, titubeando, contando as vantagens sobre Regina…
Nisso, vem chegando o “Carioca”, alcunha dum dos moradores, por razão óbvia.
Este pergunta, falando alto, como se lhe havia, na frente de todos, incluso Tetê:
— “Porha, alguém de vocês viu a Regina?“.
Respondêramos que não, exceto Tetê. Mudo, este.
Carioca continuou:
— “Porha, aquela vadia chupou meu &au, ali detrás da banca de revista. Quando eu terminei, ela perguntou, com a boca empanturrada: ‘Gorcô, gorcô?’. Preciso falar com ela…“.
O bar inteiro rindo da cena descrita, menos, não se sabe o porquê, Teixeirinha. Este fora para casa, apressadíssimo…
Nós ficáramos na beberagem e rindo. Muito. Eu, no chão, sem fôlego.

Os nomes são fictícios, como sempre o fazemos. A cena, não. Realíssima. Ainda hoje, só em contá-la, rio, e muito.

Lula, Ícone De Um Povo, Viverá!

Calunista‘ Global Incita, defende, abertamente, o desaparecimento de Lula (Alô, JustiSSa! Alguém ainda aí?)
Não carece repetir o nome do escriba, nem ao poço do ódio, nem mesmo suas lassas razões, tudo isso sobejamente disponível in loco, bem como nas Redes Antissociais. Faça-se rápida, mesmo que não vápida análise sobre o ódio e seus arautos, e só.

Pelo bem do país, Lula deve Morrer, disse o embevecido, encolerizado calunista. Estivéramos em uma democracia, quem destila tanto ódio, tanta apologia à morte estaria em sérios apuros legais, presume-se.
A propósito, o que é o Bem ao qual se refere o salivante? Sobre qual país este apanágio recairia? Ao mesmo onde todo aparato ideológico deixa incólumes mercadores deste, inclusive de sentenças? Pouco provável…
Resta inútil lembrar ao salivante calunista que, malgrado se possa matar o homem alvo de tanto ódio, impossível matar o ícone. Lula é tão indestrutível, enquanto alter de uma era, de um povo, de uma identidade, coisas sabidamente ausentes na classe dominante, que seu desaparecimento físico poderia produzir resultados inesperados, exceto cessar o mito; empoderá-lo, ainda mais, certamente. É por isso que ainda não se ordenou, ainda, da Matriz, a Solução Final para o “Jara“.
Neste ponto, os que controlam os títeres daqui têm muito mais sensatez, por assim dizer.

Pelo bem de qualquer lugar, aqui, algures, Lula deve viver; todos devemos; ser escrutinado pelo seu povo, pois, de todos os males e sortilégios, que perdure a esperança, tão sabiamente velada por Pandora, em prol dos homens.
É o triunfo da razão sobre o ódio. Lutar pela liberdade (e pela integridade física, mais do que nunca, de Lula ou de qualquer pessoa que se encontre ameaçada pelas suas convicções políticas. Lula vive. Viverá, sempre… Ele representa Madiba e Dreyfus, e isso não pode ser evitado. Saibam disso os salivantes. Lula do Brasil.

Em defesa do Estado de Direito: acima do revanchismo

 

Artigo publicado originalmente no Vi O mundo, a quem agradecemos
pela acolhida e pelas sugestões de diagramação.

Não sou petista. Já fora ‘acusado’ de sê-lo, durante toda minha vida como estudante e ou cidadão. Tal “acusação” tem, no seu cerne, uma certa dose de reafirmação do PT como Partido com princípios, mesmo quando, sabe-se, a intenção é desqualificar (estudei Licenciatura em Pedagogia e a Ciência de Jhering).

Não tenho qualquer filiação. Nunca me senti forçosamente atado a determinado grupo, quer na vida discente, quer na militância, onde vez por outra era tratado como “votando contra os princípios do nosso grupo”. Isso me trouxe alguns dissabores, não o bastante para me fazer deixar de lutar pelo que acredito.

Muito comum no Brasil, qualquer pessoa que apresente um grau de conhecimento político e defenda uma agenda progressista mínima, altiva, ser tachado de “petista”, “comunista” e de agitador. A alcunha, a tarja de “anarquista” está, parece, em franco desuso.

No caso de “ser petista”, há, embricado, na acusação, um certo elogio ao Partido.

Com efeito, nestas passadas três décadas de organização partidária brasileira, com suas especificidades, tem sido o Partido político a preservar uma unicidade em torno da legalidade e da observância do Ordenamento Jurídico.

Não sem rusgas, pois, como qualquer corrente (ou agrupamento destas) pensamento, há sempre interpretações distintas, mas que, dentro do que se concebe como salutar, têm sido discutidas dentro do Partido.

Agora, no olho do furacão das discussões intestinas e corriqueiras, está a questão da postura do PT à cassação do mandato do Senador Aécio Neves.

Os mais figadais dizem que o PT esquece o que fez Aécio. Existem manifestações que beiram o discurso odioso da mídia hegemônica.

A meu não humilde ver, não se trata, jamais se tratou, de defender Aécio, pois, para este, não há defesa.

Homem vil, baixo, invejoso, colérico, vingativo, pode ser apontado seguramente como um dos que fizeram o Brasil mergulhar nesta situação dificílima, com certeza.

Mas não, não é defender o indefensável. É se defender o rito, a Lei, a interdependência dos Poderes, sem qualquer hipertrofismo de um destes.

Não é demais lembrar que o conluio Judiciário | Executivo, durante a ditadura de 64, produziu uma das cunhas políticas mais impenetráveis da história recente do país. O executivo ‘executava’, literalmente, através dos seus verdugos, e o Judiciário coonestava. Tudo ‘em casa’.

Entenda-se que isso é o que tornou o PT o partido mais coerente com o seu Programa. É o único que sempre esteve do lado da legalidade e não arredou pé, jamais, de lutar por estes mesmos princípios.

Os que criticam a postura do PT, em defesa da legalidade e da primazia do Senado em decidir sobre o seu próprio destino, estes sim esquecem que o já ínfimo STF, outrora tido como Guardião da Constituição, está a usurpar as prerrogativas do Senado. Fazendo política.

Usar de revanchismo contra Aécio ou qualquer outro calhorda udenista não nos torna melhores. Pelo contrário. Nivela irremediavelmente a política ao direito da turba, tão alimentado, diuturnamente, pela grande mídia.

Lutar pela legalidade, mesmo nestes tempos grises, de política feita pelos tribunais, e até por causa disso, é a única saída.

Até se aceitem os argumentos dos que dizem que o PT foi lacônico, para ser sutil, no caso do golpe contra Dilma. Concorde-se.

Que o PT também não mostrou o mesmo furor ético quando da cassação de Delcídio; à época, publiquei texto exortando ao Senado a defender-se, enquanto Poder legítimo, contra [mais] uma usurpação do teleguiado e minúsculo STF ciático. Leia, se desejado, aqui.

As pessoas parecem não se dar conta de que a defesa do Estado de Direito é a pugna de quem defende a Lei ante a barbárie.

O problema de quem defende o revanchismo, não o Direito, é que estamos covalidando, sem querer, a anomia dos Poderes, além de desrespeitar o básico princípio da interdependência dos Poderes e a hipertrofia, revisitada, do Golpiciário, o Partido togado.

Só se poderá pensar em uma Nação, um dia, se se refundarem os princípios basilares do Direito, reduzidos a pó, sem trocadilhos, pelos que dele, o Direito, seriam os defensores naturais e não o são, por motivos que extrapolam este artigo.

Tudo que falei fora feito do ponto de vista de um simpatizante do PT.

Era importante fazer este contraponto e com a equidistância, até onde se puder dela dispor, de um militante e de um dos seus desafetos, seja um pago pela mídia hegemônica, quer se trate de um teleguiado, um coxinha.

Com vocês, a discussão. O que pensam sobre isso?

Coisas Que Só Acontecem Comigo

Tomo I, Causo II: A História do café ‘Cuado’.

Emprestado a outra instituição, fui a uma Unidade desta, pois seria necessário verificar cabeamento, aterramento, etc., uma das minhas atribuições no novo local de trabalho.
Levei meu equipamento (multímetro, chaves, disquetes (é o novo!), etc.).
Íamos passando, eu e colega de trabalho e da tarefa, quando ouvimos conversa, próximo à cantina, mui acirrada, algumas pessoas claramente alteradas, numa algazarra só.

Um dos contendores, Sabino, fulo, possesso, alegava não mais tomar café nem fazer qualquer tipo de refeição no espaço cito, pois tinha surpreendido o taifeiro fazendo sexo por entre as grades da cantina??!!

Ele, testemunha ocular da inusitada cena, havia visto e a descrevera, para deleite de uns, asco d´outros, com requintes de detalhamento.
Num certo momento, Sabino vociferou:
— “Nunca mais tomo café nessa p&hra“.
Eu intervim. Disse-lhe, em tom severo:
— “´Pera aí, Sabino. Você não está sendo justo. Não é você que sempre diz que adora café ‘cuado’ (Sic!)?”.

Caprichei na prosódia, para ficar bem claro o trocadilho infame. Risadaria incontrolável. Todos rindo, inclusive Sabino, totalmente ‘desarmado’, sem qualquer condição de retomar o acirramento, quando me disse:
— “P&hra, Morvan. É impossível falar sério contigo.”.

Um dia, já em minha Repartição, ele me vê, ri e diz:
— “Morvan. Lembras-te de mim; e da história do café?“.
Assenti, com um sorriso. Ele me falou:
— “Devo-te um favor. Estava tão alterado que seria punido, certamente. Desarmaste toda a confusão.“.
Agradeci a ele, disse que adoro café, mas prefiro solúvel; nada de café coado. Nova risadaria.
Obs: o nome Sabino é fictício e visa a proteger a privacidade da pessoa envolvida.