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Rosa Parks: Não Ao Etnicismo. O Mundo Nunca Mais Seria O Mesmo

Imagine um lugar onde há restaurantes com acesso exclusivo para brancos; bebedouros separados para os brancos e para os “coloridos”, os de cor. Em alguns Estados, neste mesmo país, o negro não poderia jamais pesquisar em uma biblioteca ou estudar em escola para brancos. Foi neste ambiente que veio ao mundo Rosa Louise McCauley, em quatro de Fevereiro de 1913, Tuskegee, Alabama, ou, para os íntimos, Rosa Parks. 1º de Dezembro é o seu dia, dia este comemorado concomitantemente na Califórnia e em Ohio. Não só pelos nomes dos Estados [con]Federados, dá para ver que não se trata do Brasil. Falamos sobre os Estados Unidos da América. Lá, o preconceito étnico é institucional. Como se trata de uma Federação, os seus Estados-Membros podem, como se sabe, ter leis diferentes, aplicáveis só na sua Jurisdição. Aqui, temos preconceito? Sim, mas de forma sutil, escamoteada, difusa. Se se pode elogiar algo (não a segregação, claro) nos Estados Unidos, com relação a esta odiosa segregação social, é o fato de eles, pela sua formação diferente da nossa, não jogarem para baixo do carpete seus demônios. Rosa Parks tem este dia em sua homenagem; e o porquê disto? Foi neste dia que o motorista James Fred Blake admoestou a costureira Rosa Parks a ceder o lugar no ônibus a um branco. Rosa Parks disse não. Imediatamente, James Blake acionou a polícia. De acordo com a Lei Civil, o motorista poderia determinar o local dos passageiros, por critério étnico. Ali, com a recusa de Parks em ceder seu lugar ao passageiro branco, a cadeia de eventos desaguaria no Boicote Ao Sistema de Ônibus de Montegomery e seria o estopim da luta pela igualdade étnica nos Estados Unidos e em todo o mundo, vez que o preconceito existe algures e, via de regra, é escamoteado.
Pois sim. O movimento de boicote iniciado pela valente Parks se iniciou neste ilustre dia e prosseguiu até Vinte de Dezembro de 1956, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou inconstitucionais as leis segregacionistas em ônibus do Alabama e, claro, de Montegomery. Claro que Parks sofreu inúmeras represálias, por sua postura insubmissa, mas foi em frente. Teve de se mudar, pois não conseguia trabalho no Alabama (naquele tempo, mais do que nunca, oferecer trabalho a uma “negra rebelde” era o mesmo que colaborar). Um dos maiores líderes do boicote ao sistema viário do Alabama era o grande ativista dos direitos civis Martin Luther King, autor do eminente discurso Eu Tenho Um Sonho.
A partir da luta de grandes líderes, como Luther King, Parks e Malcolm, o X, os Estados Unidos começaram a rever suas leis segragacionistas, de inspiração sulista.

 “Servimos Gente de Cor. Porta dos Fundos”.
BuzzFeed, via PapoDeHomem.

Leis que impediam negros de votarem e serem votados pereceram. Mas muito sofrimento humano foi necessário. Marchas pacíficas, com pessoas sendo massacradas pela polícia, eventos que culminaram na Marcha à Capital, quando Luther King conseguiu reunir vinte e cinco mil manifestantes, obrigaram o Executivo Federal a recuar e permitir o direito ao voto dos estadunidenses afrodescendentes.
Parks recebeu a comenda Medalha de Ouro do Congresso, com a inscrição “Mãe do Movimento dos Direitos Civis dos dias atuais“, das mãos do Presidente Clinton, em 1999.
Muita coisa mudou a partir daquele gesto, aparentemente anódino, de Parks; se ela, Malcolm, Luther King, tinham sonhos, dentre outros, partiram estes sem ver os Estados Unidos elegerem o primeiro Presidente afrodescendente, além de muitas outras mudanças e de muitas que ainda advirão, necessariamente.
James F. Blake, o motorista do ônibus, logo após a prisão de Parks, afirmou, dando de ombros:

Eu não fiz nada com Sra. Parks, a não ser meu trabalho. Ela violou o Código de Conduta do Condado, então, o que eu haveria de fazer? [Eu] tinha ordens a cumprir.

Ela, la Parks, afirmou, um dia:

Nunca tenha medo quando o que você está fazendo é o correto.

Certo. James tinha ordens a cumprir. Parks idem (ceder o seu lugar a um “superior”). Com uma diferença: Rosa Parks ousou dizer não. E nada, nunca mais, há sido como antes.