Atentado Ao Hebdo, Na França. Quem É Mesmo O Intolerante?

Charlie Ebdo Charge

Charlie Hebdo – “O Corão é uma M…”. Fonte: Terra (Reprodução)

O mundo assiste, estarrecido, ao atentado à Charlie Ebdo. Tal estupefação, supõe-se, se dá pelo ato em si, pelo número de vítimas e pela sensação [crescente] de insegurança que cada ato desta natureza nos incute. E também porque tendemos a repudiar toda forma de violência, quando explícita. Já alegar surpresa não soaria sequer honesto ou verossímil.
O caldo de cultura crescente da “Guerra Ocidente X Bárbaros“, como apregoam, com a sutileza de um símio em louçaria, os senhores da guerra, começou bem antes. É só o desenrolar de um processo de cizânia artificial, sintética, fabricada, da “A América”, ou “Ocidente”, X “Os bárbaros”, “Retrógrados”, mas que serve muito bem a quem precisa da guerra por lucro e, claro, por poder global.
Remonta a séculos, na verdade. Quem são mesmo os “atrasados”? O mundo árabe nos deu importantíssimas contribuições via literatura, ciências, exemplo de matemática (na verdade, fazer uma conta nos é bem mais simples, hoje, do que se a fizéssemos utilizando algarismos romanos, como o era antes das famosas viagens de Fibonacci ao Oriente), astronomia, navegação, idem. O mundo “civilizado”, “culto”, veio a conhecer os algarismos arábicos por causa da curiosidade do italiano  Fibonacci, que nos os apresentou, e, como joia da coroa, o Zero, a maior das abstrações na matemática ocidental; Fibonacci teve que viajar até a Índia e parte da Arábia para nos apresentar o conceito (o símbolo e o seu significado abstrato). O mundo mudou, desde então. Um símbolo mudou a maneira de realizarmos cálculos e redefiniu a diferença entre nulo e inexistente. Informática, religião, filosofia, etc., têm noções diferentes de nulidade e de inexistência graças aos indianos e parte do então mundo árabe, o que, séculos atrás, lhes parecia ‘natural’.
Esta guerra da “A América”, “O Ocidente”, X “Os bárbaros”, como os E. U. A. e seus satélites querem que pensemos, é um imperativo por novos territórios demarcados, na geopolítica e nos recursos naturais, óbvio. Usualmente, quando ocorrem estes atentados, alega-se intolerância. Mas, quem é mesmo o intolerante? Eles, os “civilizados”, vêm tripudiando da fé dos islamitas faz tempo. Considere-se também que nem todo islamita é fundamentalista. Infelizmente, alguns “terroristas” (não, os reacionários do “Ocidente” não são terroristas! São “Mudernos“.) acabam fazendo o jogo deles.
Acabam dando estofo à alegação de que são [todos eles] fundamentalistas, violentos, retrógrados, e, claro, terroristas. Quem promove terrorismo de [des]informação, quem massacra com violência simbólica, como classificar?

Liberdade de Imprensa? O que é liberdade?

O mundo “civilizado” trombeteou, em unânime, ser este atentado não só à magazine, mas à liberdade de imprensa. Quem viu os líderes na tevê, leu na prensa ou na Internet, até pensava se tratar de discurso combinado. E o é, de certo modo. Na mídia nativa, a mais escroque deste sistema solar, digo sempre, apregoou-se que o que fizerem na França seria como se eles matassem chargistas brasileiros, com exemplos. Furto-vos de reproduzir quais. Alegou-se, com cinismo caricato, que a Charlie é plural. Sim. Como o é a mídia brasileira. A magazine fazia 10 (dez) charges de tripudiação a “ocidentais” e trezentos (300) com os “bárbaros”; aqui, onde o ‘pluralismo’ também reina, o Manchetômetro Registrou 18 Capas Pró-Dilma; 234 Contra. Pluralismo. Aqui como lá. Pois sim. Liberdade é algo absoluto? [Temos o] Direito de insultar as crenças do outro? A nossa Presidente, acertadamente, repudiou o atentado aos chargistas. Discordo do que disse, porém, no que tange à “liberdade de imprensa”:

Esse ato de barbárie, além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas – a liberdade de imprensa…

Estes atentados não são, como analisou, penso e reitero, equivocadamente, nossa Presidente, “um atentado à liberdade de imprensa”. São um atentado ao direito do outro de pensar diferente. Eles “O Ocidente”, são tão ou mais intolerantes quanto fora a Inquisição. Ou seja, temos o direito de pensar igual a eles, os “mudernos“, para não sermos massacrados. Simples assim. Onde já se viu? Pensar diferente? Se são um atentado, o são ao próprio limite que a imprensa se consegue não impor. Meu pesar pelas pessoas mortas. Lamento por elas e pela intolerância (d´ambos os lados). Mas pelo que consigo conceber como ‘liberdade’, soa bem desonesto. Mas, se tu achas que liberdade é bem mais que uma calça azul e desbotada, hás de conceber também que a liberdade é cara demais para ser confundida com direito de tripudiar da visão de mundo do outro. Aliás, a liberdade de imprensa, mormente no Brasil, funciona como uma máquina financiada pelo poder público, para assassinar reputações e consciências. Fábrica de coxinhas. Não é esta a minha liberdade. Esta máquina de moer reputações, inclusive de quem lhe financia, não é liberdade. Liberdade PRN! Privei, poupei a nós todos de outras charges “pluralistas”, como aquela que mostra (supostamente) Maomé de bruços e com um trocadilho infame, impublicável; quem quiser vê-las, os Motores de Busca as têm à profusão . Observe-se que o hebdomadário tem o vocativo “Jornal Irresponsável“, na sua capa. Precisa dizer mais?

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9 ideias sobre “Atentado Ao Hebdo, Na França. Quem É Mesmo O Intolerante?

  1. Morvan Autor do post

    Bom dia.

    Vale a pena ler, no VOM, Altamiro Borges: Papa Francisco Desperta A Ira dos Direitistas, onde o articulista descreve a ira do ultrarreacionário Reinaldo Azevedo pelo pronunciamento do Papa Francisco, condenando a tripudiação do “libertário” Charlie Hebdo. O santo Papa faz, ao assim se pronunciar, cotejo duplo do que afirmei, pelo que diz o santo homem e pela reação, até certo ponto, previsível, do infelicíssimo Reinaldo Stercorarius Scaravellius.
    Observações: ao proferir santo, por ser ateu (e ter a felicidade de viver em um mundo, ainda, laico), só me referi a dous homens, até ora: Francisco e D. Hélder Câmara. São santos. Conseguem transpor o proselitismo de suas cidadelas religiosas em prol do Ágape. Com relação ao Papa Francisco, inclusive, publiquei, logo à sua investidura, artigo jocoso (como sempre, com fundo de análise, mesmo) lá no Hariovaldo, supondo ser mais um JPII. Nada mais errôneo. Que delícia de "queimada de língua". Como é bom se enganar, às vezes.

    Saudações bolivarianas; {♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥}; “Dilma, Reformas Urgentes: Judiciário, Educação e na Política“,
    Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

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  3. Morvan Autor do post

    Boa noite.

    À guisa de suplementação, mesmo na mídia convencional temos manifestações que, a exemplo do que falo, condenam a violência mas não parecem comprar a ideia de “liberdade de expressão” como algo incondicional, acima de todos os valores. [Carlos] Latuff, tão bem frisado pelo meu amigo FrancoAtirador, afirma, no IG: “Não Trabalharia Na Charlie. Não Tenho Por Que Desenhar Maomé Sem Roupa”. Laerte Coutinho, no mesmo veículo, afirma:

    Os cartunistas lidam com a linguagem do humor, mas são jornalistas. Eu sou a favor da liberdade de expressão, mas não acho que existe expressão acima de qualquer crítica. Se você faz um discurso estimulando pessoas a praticar violência ou discriminação, isso precisa ser discutido.“.

    Para todos os [d]efeitos, a 4ª guerra está no seu preâmbulo e seus engendradores colhem os frutos da divisão. Os “mudernos“.

    Saudações bolivarianas; {♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥}; “Dilma, Reformas do Judiciário, Urgente e da Educação, mantendo, obrigatoriamente, as disciplinas ‘criticistas’“,
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  5. Maria de Nazaré da Rocha Penna

    Morvan, mais uma vez, parabéns pela liberdade de expressão em tempos de lavagem cerebral tão absoluta e contundente a nível global. Penso na reação dos fundamentalistas cristãos se aparecesse uma charge dizendo “la Bible c’est de la merde”…

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    1. LV

      Tem charges muito mais blasfemas em relação ao cristianismo no Charlie, procure. De onde você tirou a ideia de que eles só fazem cartuns do islamismo?

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    2. Morvan Autor do post

      Boa tarde.

      Maria de Nazaré da Rocha Penna (9 de janeiro de 2015 às 15:46):

      … parabéns pela liberdade de expressão em tempos de lavagem cerebral tão absoluta e contundente a nível global…‘.

      [Ironia_Desligada]
      Cara Maria Nazaré de Luta. Obrigado. Assistimos ao desfraldar da Nova Inquisição, desta vez muito mais periculosa, pois travestida de fundamentalismo religioso puro, mas com raízes políticas dominantes. Com um agravante: eles têm a mídia. Os “bárbaros”, não…

      Saudações bolivarianas; {♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥}; “Dilma, Reformas do Judiciário, Urgente e da Educação, mantendo, obrigatoriamente, as disciplinas ‘criticistas’“,
      Morvan, Usuário GNU-Linux #433640 (Fedora 21_x64). Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

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