Passado o Primeiro Turno das Eleições Municipais, em Fortaleza, a exemplo de vários outros Municípios brasileiros onde se dispõe de eleições em dois Turnos, aqueles cujo candidato desejado se encontra fora do segundo escrutínio podem, e alguns efetivamente o fazem, pensar que a sua lida terminou, justamente por ter tido o seu escolhido preterido. Só que a política é ato contínuo. Nossas atenções devem se voltar, agora, para a escolha mais acertada entre as propostas guindadas à escolha decisiva.
Os candidatos que se qualificam ao Segundo Turno representam diferenças, sutis, que sejam, para com o seu contendor. No caso de Fortaleza não é diferente e as divergências de pensamento sobre infraestrutura, divisão orçamentária e sobre o calcanhar de Aquiles das metrópoles, a segurança, ou como os futuros gestores a veem, chega a ser gritante.
Roberto Cláudio, atual detentor do cargo, não parece imprimir grande ênfase na questão e isso é uma bênção. Veremos o porquê, a seguir.
Já o seu adversário, Capitão Wagner, tornou esta questão a menina dos olhos de sua eventual gestão. Mas aí está o nó górdio da situação: ele, o candidato, quiçá instruído pelos seus assessores, ou mesmo pela sua formação militar, hipertrofiou a lide da segurança. Tornou-a a causa em si e isto é um problema, pois uma cidade, mesmo que se reconheça a premência de repensar a questão em tela, não se resume à “luta do bem contra o mal”, “dos bandidos contra os mocinhos”, como se fosse um imenso e real Cinema Spaghetti. Mais equivocado, impossível.
Uma cidade demanda uma gama enorme de nuanças a serem tratadas com iguais zelo e com denodo, não aquele militarizado, de fazer porque é quem manda, mas sim a vontade política de realizar. Saúde, Educação, Lazer, segurança, Mobilidade, Ecologia. Tudo. Uma cidade é um organismo multifacetário e quem assim não pensar vai falhar terrivelmente, pois um verdadeiro gestor não pode ter uma visão simplista ou reducionista da realidade municipal.
A propósito, quase não se discutiu política municipalizada, dado o processo de golpe da Presidente Dilma. O país esteve acéfalo, durante quase o ano inteiro e pouco se discutiu a realidade dos munícipes. Ainda está-o.
Umas poucas vezes que reuni coragem para assistir à propaganda local, me deparei com a própria indigência de propostas, de um modo geral. Quando vi as inserções do candidato em tela, confesso que fiquei assustado. Parecia que estávamos todos dentro de um gueto. O narrador descrevia, paciente e ironicamente, os itens a portar, quando se saísse de casa; uma verdadeira operação de guerra. Faixa de Gaza é um soslaio na descrição. Assustador.
Reitere-se: a questão da cidade não se esgota na Segurança. Pelo contrário. É o leque de ações continuadas, paulatinas, dos gestores de todas as Esferas que vai influir na Segurança dos cidadãos, não o contrário. A Segurança é construída no dia a dia da cidade, com ações afirmativas, com a presença do Estado, não de modo repressor, mas oportunizando a todos o usufruto do espaço municipal.
Se alguém vier até você com propostas que se resumem a repressão, sem considerar o Estado como co-responsável pelas políticas que ele mesmo implementa, através dos seus gestores, está mal informado e ou intencionado. O problema da segurança não passa por repressão e por tutela. Segurança, por mais que eles insistam, não é caso de polícia. É problema de presença do Estado. Este como indutor de políticas sociais, não agente de repressão.
Conclamo a todos os eleitores alencarinos a repensar o que discutimos aqui. Exorto a votarem em Roberto Cláudio. Não votei nele, remarque-se. Nem em 2012 nem ora, no Primeiro Turno. Mas o farei. Porque suas propostas não apresentam o Estado como mero tutor e nem os cidadãos como inimigos internos. Propostas mais amplas, visão menos departamentizada da Segurança. Segurança é política de Estado, não caso de polícia.
Por uma política de paz. É estritamente necessário. Não estamos, jamais estivemos, a demandar heróis, fardados ou não. Mas sim gestores. Homens capazes de entender a envergadura do poder que lhe haverá de ser conferido via voz inexorável das urnas. Neste momento, dadas as duas propostas, a opção correta é Roberto Cláudio. Por uma cultura não marcial, respeitando a pessoa humana, vote Roberto Cláudio.
Boa Noite, Morvan. As eleições municipais vem nos mostrando e ainda nos mostra que a conjuntura eleitoral está um caos, mesmo. Só ilustra, cada vez mais, a grande derrota das forças de esquerda. É ACM Neto em Salvador, é João Dória em São Paulo, e a possibilidade de Crivella no Rio de Janeiro (avemariameudeus). E por fim, o Capitão Wagner, em Fortaleza, fechou o ciclo das forças mais retrógadas, atrasadas, porque pior do que perder os candidatos de campos progressistas (esqueça a esquerda) é eleger um militar para um cargo da administração pública. Isso porque elege, também, uma estrutura repressora, que bate em estudantes, em professores manifestando por seus direitos, que reprime de forma truculenta os movimentos sociais, que tem sangue da juventude negra periférica nas mãos. Como bem disse você, segurança pública não é uma questão de maniqueísmo, é muito mais sobre gestão e antes de tudo, é muito mais prevenção do que repressão. Uma gestão preocupada com segurança pública investe em educação, garante o direito à moradia, incentiva a cultura, e dessa forma, evita de última instância utilizar a violência. Amei seu artigo. Abraços.
Boa noite.
Tânia (4 de outubro de 2016 às 22:11):
Isso mesmo, Tânia. E a política é a arte do possível. Quando o nosso candidato não vence, a batalha só começou. É escolher aquele que cause o menor estrago à já infanta defunta democracia brasileira. Este arroubo da direita se deu simultaneamente pelo trabalho “pela deslegitimação da política” e pela omissão de alguns da esquerda. Sem um e outro fenômeno social, não teríamos tido os resultados tão ao gosto de quem comprou o golpe. Nem muito menos estes candidatos “redentores”.
Concordo contigo. Há um salto qualitativo em optar por aquele que abre a possibilidade de discutir e não reprimir. Neste ano, os movimentos se ampliaram, os estudantes deram excelentes exemplos de mobilização,Luta. Agora, imagine uma figura repressora à frente da administração? Enxerga a correção policial como alternativa de moralizar a cidade? Pra mim, o que sobra quando sabemos desses Governos descomprometidos com a educação pública de qualidade é o que a Mídia televisiva, radiofônica e escrita anuncia todos os dias, PORRADA! Abraço.
Isso mesmo Morvan!
Mas temo que fazer campanha, conquistar voto a voto para o Roberto Cláudio, e convencer a população que esse Capitão não passa de um oportunista e que não sabe o que é gestão pública. Fiquei feliz com seu posicionamento. Estamos juntos!
Bom dia.
Melissa (4 de outubro de 2016 às 09:59):
Cara Melissa, obrigado e à luta. Temos um grande trabalho de esclarecimento à população, sempre ávida de soluções mágicas. É daí, claro, que aparecem estes heróis mirabolantes. Justamente da despolitização da sociedade.