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Invasores De Corpos, 1956 — Alienígenas, Nós?

Continuando nossa saga pelas análises, ousando ir além da ríspida sinopse, de alguns clássicos do cinema, sempre traçando um paralelo entre o contexto da época e o atual. Já fizéramos perscrutação de A Montanha dos Sete Abutres, Doze Homens E Uma Sentença, O Tambor, etc; chegou a vez de Invasores de Corpos, (Invasion of the Body Snatchers (Br: Vampiros de Almas ou Vampiros da Noite, Pt: A Terra Em Perigo) o original, de 1956, por Don Spiegel, baseado no livro homônimo de Jack Finney.
Só a título de informação, este obscuro filme B, transformado em “Cult” muito mais pelas polêmicas envolvidas, teve três refilmagens, todas bastante fieis ao livro, exceto o último, de 2007 (Invasores de Corpos, 1978; idem, 1993; e A Invasão, 2007).

Do enredo

Ao chegar à fictícia pequena cidade de Santa Mira, o dr. Miles Bennel reencontra sua antiga namorada, Becky Driscoll, ambos enfrentando problemas conjugais semelhantes, mas, mesmo dada a feição revivida por ambos, eles não dispõem de muito tempo para romance, pois logo ao chegar, dr. Miles atende a vários casos de pessoas com alegação que remete a histeria coletiva, alucinações e até mesmo à Sindrome de Capgras.

A cidade típica estadunidense é, aos poucos, invadida por seres de outro planeta, os quais têm uma forma de vagem, leguminosa gigante, até mesmo de pupa, um casulo, que seja. Tais vagens, após o processo de maturação, dão origem a cópias perfeitas dos humanos substituídos, sendo estas, porém, desprovidas de qualquer sinal de emotividade, senciência, empatia, enfim, desprovidos de qualquer traço de emoção, substituindo os moradores aos poucos e instalando um clima de aparente histeria em massa, como se já falou. Dr. Miles começa a ver que há algo além da histeria coletiva, pois Driscoll alega que sua prima, Wilma, tem os mesmos sintomas da turba, não reconhecendo seus familiares. Tem o caso do guri, logo no início, fugindo dos próprios pais e alegando que não são eles, são cópias fieis.
Além do mais, algo estranho acontece com os alegantes de estranheza dos familiares: eles começam a desmarcar as consultas, dizendo que foi engano.

As substituições vão se dando uma a uma, até só restarem os dois personagens centrais, e, na fuga desenfreada para fugir dos seres sem emoção, ou povo vagem, como seriam chamados, a seguir , Miles e Driscoll se deparam com caminhões transportando centenas de novos invasores, ainda, claro, em forma embriônica. Acionam as autoridades (o FBI. Começa aqui a teoria do enviesamento?). No final do filme, entre os carros em movimento na estrada, Miles corre, gritando ensandecido: eles estão invadindo, estão chegando, e vocês serão os próximos!.

Do Enviesamento Político do Filme

Para se antever, no filme, algum enviesamento, mister que se lembre de que o ambiente corresponde ao auge do macarthismo. Hollywood não ficaria fora, jamais, do crivo “democrata” do período (Eliah Kazan, Don Siegel, Charles Chaplin e outros sofreram as agruras de viver, até a própria morte, sendo acusados de propaganda ideológica e de alcaguetagem ou de sofrer toda a sorte de perseguições de então).
É fato que estávamos em plena era de caça às bruxas. Hollywood, fábricas, partidos políticos, escolas (sem partido?), nada, nada mesmo, escapava do macarthismo.
Mas, pondere-se, foi nesta época o “boom” de filmes de suspense, de terror, ficção científica e dramas. Foi uma década rica.

Muitos críticos, à época, viram forte enviesamento político-ideológico no filme, até mesmo por os figurões da indústria de cinema terem “adocicado” o final, colocando, a despeito do original, de Finney, um final menos distópico.

Siegel, em mais um instamento a falar sobre as conotações do filme, intencionais ou não, não as negou, mas pontuou que não era algo específico, e sim uma crítica à crescente falta de sensibilidade das pessoas para as artes, tristeza, dor, e que a menção ao Senador McCarthy e ao seu inclemente regime de caça às bruxas, perseguição política, no caso, seriam inevitáveis, mas, mesmo assim, o filme não a enfatiza, buscando, de modo sutil, subliminar, discutir o crescente ‘vegatatismo’ humano, ou seja, as pessoas estavam, aos poucos, se assemelhando com os esporos do filme. Em suas palavras, o filme não assumia, mesmo criticando visões de mundo, uma visão professoral.

De um modo ou de outro, o filme remete ao macarthismo, sim, às vezes sutilmente às vezes nem tanto. A posição que ele toma depende mais do ponto de vista do próprio expectador, pois o filme, com pouco orçamento para efeitos especiais, enfatizou, claro, o discurso, o clima claustrofóbico, o terror.
O filme de Siegel pode ser lido de uma forma mais clássica, mas também o pode como uma crítica bastante atual ao modus vivendi da juventude.
Quem nunca assistiu à cena ao ar livre de uma mesa repleta de adolescentes, nenhum conhecendo ou interagindo com o outro, ensimesmados com o seu “smartphone“, praticando prestidigitação, digo, conversa, “chat“?
O individualismo, o culto ao efêmero, o apego doentio às redes sociais, o desprezo à privacidade (deles e dos outros); Don Siegel atual?

Atualidade de Don, Vampiros…

Hoje, não poder sair às ruas trajando vermelho, aqui e algures, sem ser hostilizado por imbecis, vegetais controlados pela mídia, [m|v]idiotas, o culto ao fascismo, o “comunismo” detectado na bandeira nipônica, o direito do inimigo, onde qualquer decisão que prejudique aqueles apontados pelo poder midiático como tais, valem, não importa se juridicamente aceitável ou não, tudo isso provoca uma pergunta inelutável: Don Siegel, Vampiros de Almas, atuais?
E a Escola Sem Partido? Esta aberração, este terato inventado pelos senhores da guerra, para garantir a próxima geração de esporos? Virão eles, já com implantes, ou precisarão adquirir novos “smartphones“?
E você, viu o filme; se não, vai vê-lo? O que pensa de tudo isso?

1 Piada pronta? Se eles não queriam, sob qualquer pretexto, ser acusados de viés ideológico, porque um ator justo com o nome McCarthy?
2 Kevin volta a atuar na versão de 1978, não protagonizando.
3 Uma fala dos alienígenas, em sua raça, todos são iguais, pode ser menção ao modo de produção socialista ou até ao comunismo; não esqueça o clima de “Guerra Fria” de então. Mas, com um pouco mais de busca, também posso atribuir esta frase aos Borgs (Jornadas Nas Estrelas, A Nova Geração);
4 Uma das imagens promocionais do filme (Acesse-a clicando na primeira imagem do artigo; abre em outra Janela) torna impossível não evocar “Os Pássaros“, de Hitchcock, cujos enredo, fotografia, sugestão de invasão ideológica e clima claustrofóbico são bem similares.

Invasores de Corpos (ttc Vampiros de Almas), 1956 (IMDB).
Data de lançamento: Fevereiro 5, 1956 (Duração 1h 20min), Eua
Direção: Don Siegel
Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter, Larry Gates
Gêneros: Terror, Ficção científica

Eleições Em Fortaleza: Por Uma Cultura De Paz, Vote Roberto Cláudio

Passado o Primeiro Turno das Eleições Municipais, em Fortaleza, a exemplo de vários outros Municípios brasileiros onde se dispõe de eleições em dois Turnos, aqueles cujo candidato desejado se encontra fora do segundo escrutínio podem, e alguns efetivamente o fazem, pensar que a sua lida terminou, justamente por ter tido o seu escolhido preterido. Só que a política é ato contínuo. Nossas atenções devem se voltar, agora, para a escolha mais acertada entre as propostas guindadas à escolha decisiva.
Os candidatos que se qualificam ao Segundo Turno representam diferenças, sutis, que sejam, para com o seu contendor. No caso de Fortaleza não é diferente e as divergências de pensamento sobre infraestrutura, divisão orçamentária e sobre o calcanhar de Aquiles das metrópoles, a segurança, ou como os futuros gestores a veem, chega a ser gritante.

Roberto Cláudio, atual detentor do cargo, não parece imprimir grande ênfase na questão e isso é uma bênção. Veremos o porquê, a seguir.

Já o seu adversário, Capitão Wagner, tornou esta questão a menina dos olhos de sua eventual gestão. Mas aí está o nó górdio da situação: ele, o candidato, quiçá instruído pelos seus assessores, ou mesmo pela sua formação militar, hipertrofiou a lide da segurança. Tornou-a a causa em si e isto é um problema, pois uma cidade, mesmo que se reconheça a premência de repensar a questão em tela, não se resume à “luta do bem contra o mal”, “dos bandidos contra os mocinhos”, como se fosse um imenso e real Cinema Spaghetti. Mais equivocado, impossível.
Uma cidade demanda uma gama enorme de nuanças a serem tratadas com iguais zelo e com denodo, não aquele militarizado, de fazer porque é quem manda, mas sim a vontade política de realizar. Saúde, Educação, Lazer, segurança, Mobilidade, Ecologia. Tudo. Uma cidade é um organismo multifacetário e quem assim não pensar vai falhar terrivelmente, pois um verdadeiro gestor não pode ter uma visão simplista ou reducionista da realidade municipal.

A propósito, quase não se discutiu política municipalizada, dado o processo de golpe da Presidente Dilma. O país esteve acéfalo, durante quase o ano inteiro e pouco se discutiu a realidade dos munícipes. Ainda está-o.
Umas poucas vezes que reuni coragem para assistir à propaganda local, me deparei com a própria indigência de propostas, de um modo geral. Quando vi as inserções do candidato em tela, confesso que fiquei assustado. Parecia que estávamos todos dentro de um gueto. O narrador descrevia, paciente e ironicamente, os itens a portar, quando se saísse de casa; uma verdadeira operação de guerra. Faixa de Gaza é um soslaio na descrição. Assustador.

Reitere-se: a questão da cidade não se esgota na Segurança. Pelo contrário. É o leque de ações continuadas, paulatinas, dos gestores de todas as Esferas que vai influir na Segurança dos cidadãos, não o contrário. A Segurança é construída no dia a dia da cidade, com ações afirmativas, com a presença do Estado, não de modo repressor, mas oportunizando a todos o usufruto do espaço municipal.
Se alguém vier até você com propostas que se resumem a repressão, sem considerar o Estado como co-responsável pelas políticas que ele mesmo implementa, através dos seus gestores, está mal informado e ou intencionado. O problema da segurança não passa por repressão e por tutela. Segurança, por mais que eles insistam, não é caso de polícia. É problema de presença do Estado. Este como indutor de políticas sociais, não agente de repressão.

Conclamo a todos os eleitores alencarinos a repensar o que discutimos aqui. Exorto a votarem em Roberto Cláudio. Não votei nele, remarque-se. Nem em 2012 nem ora, no Primeiro Turno. Mas o farei. Porque suas propostas não apresentam o Estado como mero tutor e nem os cidadãos como inimigos internos. Propostas mais amplas, visão menos departamentizada da Segurança. Segurança é política de Estado, não caso de polícia.
Por uma política de paz. É estritamente necessário. Não estamos, jamais estivemos, a demandar heróis, fardados ou não. Mas sim gestores. Homens capazes de entender a envergadura do poder que lhe haverá de ser conferido via voz inexorável das urnas. Neste momento, dadas as duas propostas, a opção correta é Roberto Cláudio. Por uma cultura não marcial, respeitando a pessoa humana, vote Roberto Cláudio.