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Aposentadorias: 85/95 E Avante. Trabalhar Para Viver Ou O Contrário?

Chaplin, Tempos ModernosQuando no poder, os tucanos ‘criaram’ o Fator Previdenciário, doravante, para os íntimos, F. P., um terato, um saco de maldade (foram tantos, em cima dos “vagabundos” dos aposentados; e dos da ativa, também) cujo sentido seria de equilibrar as contas da Previdência(?). Pelo menos era o que o FMI instruía que dissessem! F. P., uma necessidade da banca, digo, do Governo, pois as pessoas estavam ficando vivas mais tempo (acredite, tem quem não aprecie isto.). Ora, a expectativa de vida é um prêmio à própria, é um presente, um apanágio da evolução científica; não pode jamais ser tratada como um estorvo, como faziam antes os tucanos e o fazem, ora, os petistas, ou a sua imensa maioria, os d´ora gerentes da banca local. Voltaremos ao tema, oportunamente.

Os tucanos e seus pares udenistas não têm qualquer cerimônia de votar contra algo criado por eles. Isto já é sabido, inclusive, com relação à extinta CPMF. Se for para desgastar ainda mais o Governo, eles o fazem, sem qualquer verniz. E assim, crônica anunciada, cai o F. P. Revolta inclusive na imprensa tucana (desculpe a redundância), com os seus ‘calunistas’ amestrados indignados com a trôpega oposição.

Agora vem a parte tragicômica. A alternativa ao inditoso F. P. seria a Lei N° 3299, proposta de Paulo Paim, cujo bojo legal deixaria os cálculos tais quais anteriores ao F. P.; este P. L. recebeu substitutivo, haja vista o patente descontentamento para com a antiga fórmula, nesta proposta incorporada, tanto do Governo quanto da oposição, substitutivo este apresentado por Pepe Vargas; contempla a Fórmula 85/95, que baliza a aposentadoria pelo tempo de contribuição, mesmo que considere, de forma não-preponderante, a expectativa de vida do contribuinte, diferente do famigerado Fator Previdenciário, o qual se norteia, como dissemos, pela expectativa de vida (a fórmula 85/95 faculta a aposentadoria integral quando a soma da idade e do tempo de contribuição atingir 85 (mulheres) ou 95 (homens)).
Os Deputados e Senadores votaram a alternativa que contemplava a Fórmula 85/95, na forma da Medida Provisória 664. Acontece que o Governo vetou a alternativa e apresentou a MP 676, cuja característica principal é o retorno do balizamento pela expectativa de vida, pois acrescenta, progressivamente, idade e tempo de contribuição ao cálculo para a aposentadoria integral. O gatilho da progressividade se inicia em 2017 e vai até 2022; ressalte-se que este mecanismo já se encontra em vigor. Sim, é tragicômico se pensar que o Partido dos Trabalhadores seja tão bom preposto da banca e represente tão mal (ou nunca) os trabalhadores, malgrado o próprio nome. Risível se pensar que Paulo Paim, afora as Centrais, que têm em si, obrigação de zelar pelo trabalhador, sejam os únicos a defender uma solução para o execrável F. P.

Estudos das Centrais Sindicais e do próprio Governo apontam que a gestão Dilma não seria atingida, caso da adoção, sem progressividade, da Fórmula 85/95; na verdade, teria até algum alívio em suas contas, pois, logo no início, os trabalhadores tendem a adiar a aposentadoria, pagando para ver o resultado das medidas. O Governo alegou, quando das críticas, tanto das Centrais Sindicais, quanto dos ‘calunistas’, que ao Governo compete responsabilidade. Caberia, assim, à sua gestão a visão de futuro da sanidade das contas.

E se o próximo gestor da banca considerar que a expectativa de vida vai continuar crescente (e o vai, ainda bem) e que, por isso, a MP 676 não servirá nem mesmo para o interregno 2017-22? Quer dizer, o 90/100 irá para o limbo? 105/115; 110/120? Alguém ainda conseguirá sequer formular o pedido, de punho próprio, sem procuração?

O modo neo-tayloriano de agir dos petistas na gestão do gabinete capitalista não difere em nada do modo udenista. Veem todos eles a Previdência como mais importante do que o bem-estar do trabalhador e veem a vida como óbice. Assustadoramente verdadeiro.

Quem contribuiu deveria ter o direito de usufruir (o pouco que pudesse), independente do que venham a pensar os rentistas, taylorianos e congêneres.
Na verdade, o equilíbrio da Previdência se daria muito mais em se evitando os contigenciamentos, os desvios, as fraudes. Não com a vida de quem a ofertou em nome do trabalho, com dignidade.
Se se vive mais, repita-se, mercê da ciência, não dos prepostos do látego. Há espaço para uma vida mais prazerosa, mais gratificante e com mais ‘ócio’. Lembremos Domenico de Masi E Seu Ócio Criativo, para quem a vida é bela demais para nos tornarmos máquinas de produção, apenas. Para ele, a palavra ócio não tem o sentido literal. É vida, é usufruto. Aposentadoria dignas, tempestivas, pois não adianta se aposentar para controlar, de perto, a ‘farmacinha’ do criado-mudo. Saúde, vida e merecido descanso.
Começar reduzindo a jornada de trabalho, este monstro capitalista da mais-valia por si mesma, para oportunizar mais vagas. Esquecer e sobrepujar a idade média das relações de trabalho. Não trabalhar até morrer. Trabalhar, produzir e ser sujeito.
Se, na Inglaterra vitoriana, crianças trabalhavam até a morte, começar a revolução agora, aqui, Brasil, século XXI, instituindo a prevalência do homem ante o capital.
Vida longa, próspera e prazerosa.

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Contemplando O Arco-íris Ou A Solidão Compungida Da Cidade Grande

Arco-íris sobre o campoFortaleza amanheceu — como só o cearense ousa dizer — com um dia bonito, gris, cinzento, entremeado com alguns raios de sol; um pouco de atribulação para os que se dirigem ao seu ganha-pão, mormente aqueles que pegam o condução, mas um momento de raras endorreminiscências para os que, por qualquer motivo, podem se dar ao luxo de postergar sua saída do leito e se refestelar com o tempo agradável.

No caminho, já a bordo do ônibus que serve ao meu órgão público, donde, malgrado more a meros três quilômetros, mercê do traçado da minha rota, leva-se próximo de uma hora para cumprir o trajeto, pude me dar ao luxo de observar que se formara um majestoso, imponente, vibrante arco-íris!

Minha colega de rota (e vizinha, mesmo condomínio), percebi, não estaria ciente de tão bela imagem, avisei-lhe, incontinente e incontinenti. Sem querer, mesmo falando em um volume de voz aceitável, percebo ora que outras pessoas ouviram o meu alarde e começaram a apreciar e a comentar a beleza do nosso fenômeno cromatográfico-meteorológico. Puxa. Que bela sensação. Consegui, mesmo sem ser esta a intenção, despertar outras pessoas para aquele momento mágico, naquela pequena janela de tempo.
Mas o que me intrigou (quiçá, também ao leitor) não foi só a beleza nem mesmo a peculiaridade do momento. Foi, isto sim, pensar o quanto a vida moderna, nas cidades grandes, nos tira estas faculdades, nos constrange a vivermos em função do trabalho, como se este fosse a [própria] vida, não só parte, mesmo importante, desta. Não é só uma questão profissional. O homem das cidades pequenas, cidadelas, vilas, tem o direito de acordar um pouco mais cedo, não para não perder a hora da labuta, mas para poder contemplar as coisas simples, recônditas, vilipendiadas pela explosão demográfica, pela busca capitalista pelo acúmulo insano, pelo mais e mais, mas que, pasme-se, continuam belas e contemplativas.

Lembrei-me da minha infância em Itapipoca, banhos de açude, de chuva, nas calhas, nos casarões, sem esquecer os indefectíveis olhares de soslaio dos seus senhorios, como a dizer:
Fora!!! Esta calha é minha!, o que não nos impedia de fingir se ir e retornar, quando o vigilante da calha não mais estivesse!
Tomar banho ao relento, furtar frutas. Observar pássaros. Olhar desenhos aleatórios de nuvens!
Lembrei que costumava desfrutar do arco-íris com outro olhar, menos circunspecto, menos afeito à lógica fria do croma, das temperaturas de cor, da refração, da decomposição da luz; enfim, o filtro era outro, mas nem por isso deixei de me enternecer pela beleza deste raro momento. Meu dia ficou ainda mais belo!

Impossível fazer esta egologia sem evocar os Titãs e a sua belíssima música: Epitáfio. A letra diz tudo. Viva mais. Usufrua. Permita-se. Contemple a vida. Enquanto é possível.

Créditos da imagem: Arco-íris sobre o campo. Fonte: Cultura Mix