Arquivo mensal: julho 2015

Esquerda, No Brasil; Indo Além Da Síndrome de Sísifo?

Fazendo uma diacrítica, vindo dos anos ´50, período mais acentuado, ou mais ostensivo, da atividade udenista, de desconstrução e de de entrega dos ativos e da vocação do país, até aqui, percebe-se claramente que a direita fizera tudo ao seu alcance para desconstruir e dilapidar o país. Às vezes, com a colaboração tácita, não-desejada, porém, da esquerda. leia-se esquerda, para desambiguar, como qualquer corrente que tenha um pensamento não-alinhado com o entreguismo, com a abdicação da autonomia e a autodeterminação brasileira. Mercê da amplidão conceitual exagerada, há de nos permitir ter uma visão menos afeita a proselitismo.

De antemão, a direita tem um projeto, ou lhe basta a abdicação da soberania brasileira, e, por extensão, de toda a América latina? Se a direita não o tem, como afirmo aqui, parte do seu mister é evitar que a esquerda exite, governamental e politicamente, lógico. A metrópole saberá recompensá-los, por isso.

Lula, no início do seu Governo, disse ter consciência de que não poderia errar, ou seja, tinha plena consciência de que esquerda e direita, têm, no Poder, expectativas e papeis diferentes, por parte da empoderada mídia brasileira e do seu Sistema Judiciário, historicamente um coonestador e guardião dos interesses da Casa Grande.
Fazer o papel apropriado, na visão do hábil político, seria não permitir que o sistema midiático lhe pregasse o rótulo de fracassado, mesmo que o fracasso, perante a banca, a mídia e os “brasilianistas” (Sic!) fosse parte sine qua non para o regresso da “confiável” direita ao Poder. Situação difícil, mas Lula fez um Governo a ser lembrado à exaustão, exatamente por “não poder errar”. Aliás, ele cometeu vários erros, mas não aqueles pontuais, desejados pela elite. Daí surgiram os arroubos “éticos” da direita, como sói. Combate à corrupção (desde que da esquerda) tem sido tema recidivo. Um dos pilares do udenismo, aqui e algures.

E a esquerda, se o tem, qual é este? É cuidar da massa falida do rentismo, simplesmente; administrar o caos do “deus” mercado, em nome, claro, desta nova deidade humana?
Ou compete à esquerda meta pensar finalidades, nortes, ideais?
Se sim, o erro da esquerda tem sido um revival, tendo o maior erro de avaliação histórico o pensar na mobilidade social como fator autossuficiente à conscientização do trabalhador. Resta provado que, “educado” pela mídia, o trabalhador sempre se volta contra o seu “benfeitor”. Este parece ser o erro capital da esquerda.

Sem a verdadeira, legítima educação política, o trabalhador não tem como identificar seus aliados e seus verdadeiros inimigos e a esquerda parece menosprezar este fato. Tanto que jamais cuidou da Educação (no sentido finalístico, não só processual). É a verdadeira Síndrome de Sísifo: levamos a pedra da ascensão social até o cume da montanha e somos tragados pela mídia, que “ensina” à classe trabalhadora “lições” ignorância política e, por decorrência, de intolerância, e esta acaba votando nos “éticos”. Assistimos a tudo isso agora, em tempo real. Golpes à Constituição, pogroms contra os “bolivarianos”, mulheres carregando faixas defendendo o feminicídio, faixas de coxinhas protestando contra Paulo Freire (a grande maioria deles sequer sabe de quem ou do que se trata), projetos de Lei de monitoramento ideológico nas escolas, etc. A onda de intolerância, antes de geração espontânea, é fruto da desídia da esquerda. Ou do desconhecimento do seu papel, o que redunda igual.

Outro fator que tem sido igualmente e historicamente vilipendiado, pela esquerda (lembre-se que falamos sobre possíveis projetos nacionais), é a questão das indústria brasileira. Substituição de importações, indústria autóctone, pontos de inflexão industrial soberana têm sido evitados, sendo a esquerda, historicamente, refém da indústria, tanto por não propor alternativas como por não entender a importância estratégica da criação de uma indústria legítima, bem além de ser meramente uma repassadora de bens acabados, sem qualquer protagonismo na criação e transformação de matéria prima. Somos grandes fornecedores desta, sabemos. Mas podemos pensar em transformação? Como diminuir o lucro-Brasil, o que realmente encarece a nossa vida, e não o propalado “custo-Brasil”, e ao mesmo tempo, criamos condições de competir com a indústria de ponta?

Seremos condenados, feito Sísifo, a carregar pedras, mesmo sabendo que a inglória tarefa restará infrutífera, pois teremos sempre de “arrumar a casa”, esfoliada pela direita xenófila, ou podemos preter-pensar, especular, extrapolar nossos limites autoimpostos? Quando poderemos, se o fizermos, um dia, chamar a este riquíssimo país, com propriedade, de “Pátria Educadora“?

Ilustração: Punição de Sísifo, A; Tiziano. Reprodução.

Adeus A Ghiggia, Herói Do Futebol Mundial

Ghiggia sendo homenageado no Maracanã, em 2009. Fonte: Terra Esportes.

Neste 16 de Julho, o qual poderia ser uma data qualquer, mas, ao contrário, faz hoje exatamente 65 anos do Maracanazo, a primeira e mais dolorosa, por muito tempo, derrota brasileira, não fossem a Tragédia do Sarriá, em ´82, e o vexaminoso, indecoroso placar de 7 X 1 da Alemanha, também em terras tupiniquins.

Curiosamente, as mais dolorosas derrotas brasileiras advém muito mais do “salto alto” da Seleção do que propriamente da capacidade dos seus algozes, mesmo que estes tenham tido méritos, e muitos, na vitória sobre nós. Em ´82, a Seleção, tida como o melhor elenco brasileiro da história, não acreditava mesmo que a Itália pudesse nos superar, mesmo em se tratando da Itália, a qual, via de regra, sempre começa bem mal e depois engrena; levamos uma aula de aplicação. Paolo Rossi destroçou a nossa empáfia. Fez, de novo, uma nação chorar, como em ´50. Aquela derrota influenciou, negativamente, o mundo inteiro do futebol. Todas as Seleções passaram a jogar mais defensivamente, de um modo ou de outro.

A recente vergonha, a dos sete a um, bem, para um time dependente de gênios, quando o gênio não joga, não tem muito o que explicar. Não que se considere Neymar um gênio, mas neste futebolzinho que estamos a praticar, ele se sobressai, claro. Experiências são sobejas para demonstrar que, no futebol moderno, com o jogo eminentemente coletivo, não há heróis. Quando se insiste nisso, dá-se o vexame. O ruim da história é que o vexame não serviu para mudar nada, dentro e fora dos estádios.

Reportando-nos à época do Maracanazo, grande parte da derrota brasileira se deveu à soberba brasileira. Jogávamos em casa, tínhamos vencido todos, logo, seríamos imbatíveis, certo? Errado. Era um jogo como outro qualquer, onde os dois contendores fizeram por merecer disputar o título; se ninguém acreditava no Uruguai, eles o faziam. “Não é, Guigjia; heim, Schiaffino“?
O país estava todo em festa. O jogo era mera formalidade. Questão de tempo, para açambarcar, de vez, a Jules Rimet.

Ghiggia, o lutador

Seleção uruguaia de 1950.Seleção uruguaia posa para a foto do jogo. Fonte: Wikipedia.

Brasil fizera 1 a zero, com Friaça. Quase duzentas mil pessoas embevecidas. Maracanã lotadíssimo. Ghiggia ( 22 de Dezembro de 1926 — 16 Julho 2015), que, apesar de não ser brasileiro, não desistia nunca, deixa Bigode para trás, catando moscas, invade a área e cruza para Schiaffino empatar. Como o resultado ainda dava o título, pela campanha superior, do Brasil, ninguém viu nada demais. Ghiggia continuou azucrinando a zaga brasileira, para infortúnio de todos, e do Bigode, claro.

Restando 11 minutos para o apito final, Ghiggia avança novamente pela direita, troca passes com Julio Pérez; driblou Bigode, de novo. Ghiggia percebe que o goleiro Barbosa tentou antecipar a jogada e chuta no contrapé deste, para silêncio geral. Gol do Uruguai. Locutores no Brasil, como autômatos, falam, com voz distante: Gol do Uruguai.

O grande Ghiggia costumava dizer, quando perguntado sobre a importância do seu feito:

Apenas três pessoas calaram o Maracanã: o papa João Paulo II, Frank Sinatra e eu

Ghiggia homenageado, com muita justiça, mundo afora, e aqui, Bigode e Barbosa a servirem de bodes expiatórios. Barbosa só se livraria da toda a sorte de insultos, insinuações e grosserias, ao morrer, em 2000.
Aliás, daqueles vinte e dois combatentes de 1950, só restava o próprio Ghiggia, o remanescente que nos deixa hoje. Estão todos mortos. São história. Lindíssima história de honra e glória no ludopédio.

Além de muitas outras honrarias e comendas, Alcides Ghiggia foi condecorado com a Ordem do Mérito da Fifa pelos serviços prestados ao futebol. Esteve aqui, em 2009, para ser homenageado como o centésimo notável a colocar os pés na Calçada da Fama do Maracanã. Disse, na ocasião:

“Nunca pensei que seria homenageado aqui. Estou bastante emocionado. Meus sinceros agradecimentos ao público. Desejo muitas felicidades no Ano Novo, e viva o Brasil!”

Acredite-se que Ghiggia não vai será esquecido jamais. Brilhará para sempre na constelação dos deuses do futebol. E que, quem aprecia, mesmo, o futebol, jamais o verá como vilão ou carrasco do Maracanazo. Pelo contrário. Será sempre referenciado como ídolo. Temos muito a nos mirar no seu exemplo. Na sua persistência. Em acreditar que somos nós que devemos fazer a história.
Descanse em paz, grande Ghiggia. O futebol agradece pelo seu feito.

Introdução ao HTML, a Linguagem da Internet

Com a onipresença da Internet, que, de modo imersivo, passa a ser o meio, por definição, é fundamental saber compor uma pequena página em HTML, a linguagem que age nos bastidores das páginas que fazem o que conhecemos por WEB ou Rede Mundial. Vou mostrar, através de pequenas “aulas”, como tu poderás aprender e se valer deste pequeno agrupado de propedêutica de Internet para conversar em informatiquês básico de formatação amigável das URL’s, durante o desenvolvimento da nossa conversa informal.  Saber formatar com elegância (e sem decadência) páginas e “linques” de páginas em HTML amigável é vital, pois permite ao leitor uma abordagem mais profissional e estética, além de lhe dar indicação clara do que trata o Elo de Ligação ou Linque. Fica mais elegante, do ponto de vista do leitor, e também é um chamariz, pois, às vezes, o “linque” não é algo autoexplicativo nem muito menos “atraente” para o leitor. Mas vamos por partes, a la Jack. Antes de nada, a pergunta que não cala: O que é HTML? Amig@, o HTML é a linguagem por trás das páginas da Internet. HTML siginifica Hyper Text Markup Language. Tudo que tu lês na Internet contém, essencialmente, HTML, junto com outras tecnologias. Mas o visual, seja um Negrito, um Itálico, uma URL apontando para um tópico (na mesma Aba; em outra Aba ou página, se o Navegador permitir, etc), uma tabela estática, é feito com HTML. O fato de ela ser “Markup Language“, Linguagem de Marcação, significa que precisamos de outras tecnologias, por exemplo, quando for preciso abrir um Banco de Dados. O HTML é essencialmente a parte visual da tua página. Ele invoca, quando necessário, outros motores para enriquecê-la. Outra pergunta: se HTML é uma linguagem e ela faz parte do texto, como eu indico ao próprio texto ou página que eu desejo formatar algo, por exemplo? Resposta: através de Tags, Etiquetas HTML. As Tags indicam onde começa e onde termina um código para conseguir fazer algo na página. Daí a ideia de “Linguagem de Marcação”. Nós, literalmente, marcamos, indicamos, com TAGS, onde começa e onde termina certo efeito na página. As Tags iniciam, sempre, com o Menor QUE (<); depois, tu escreves o efeito, que pode ser i, para itálico; b, para Negrito (b é inicial para BOLD, Forte), por exemplos; depois tu fechas a Tag com o Maior QUE (>). Pronto. Iniciei um efeito. Para fechá-lo, indicando ao texto HTML, o fim daquele recurso ou efeito, tu utilizas, de novo, o Menor QUE (<) seguido da Barra (/); insere o comando do efeito, mas, como tem a Barra, o Navegador “sabe” que é para finalizar o efeito ou comando; fecha a Tag, de novo, com Maior QUE (>). A partir deste ponto, o Navegador interpreta que aquele efeito solicitado foi encerrado. Toda Tag que eu abro, devo também fechá-la, senão o efeito não cessaria (<>, escreve texto com o efeito, </>). Vou dar um pequeno exemplo: Vamos tornar negritada a palavra TAGS na frase “Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de TAGS”. É bem simples. Sugiro que tu copies este texto em um editor simples, como o NotePad, para quem está no Windows. No Linux, eu usaria o KWrite ou o Kate. Nada impede, também, que tu uses um software próprio para edição de HTML, como o Bluefish, o qual é um verdadeiro canivete suíço: serve para escrever código HTML, C, Python, etc., e é multiplataforma. Ao salvar, como por exemplo, para “teste1.html”, tu escreves, se se utiliza o NotePad ou Bloco de Notas, para tal, o nome entre aspas. O NotePad salvará sempre como .txt, salvo se se faz uso das aspas, para dizer ao editor de texto para salvar em outro formato. Isto é uma característica do aplicativo. Pois bem. Salve-o como “teste1.html” e abra-o no Navegador: Internet Explorer, Firefox, Chrome, Opera, não importa. Ele vai “ver” o texto com a formatação solicitada. Bem, como eu disse, para formatar em Negrito é simples: eu abro uma Tag, no início do texto a negritar, com Menor Que (<), depois coloco o código do negrito (B ou b) e fecho-a com o Maior QUE (>); para informar ao Navegador o final do efeito, eu abro com a TAG de fechamento (Menor QUE, Barra, Efeito, Maior QUE – </b>, por exemplo, para encerrar o Negrito). Observe que o código de marcação, no caso aqui, para negrito, pode ser escrito em minúsculo ou em maiúsculo. Por norma, eu escrevo em caixa baixa, mas pode ser um ou outro. A frase era “Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de TAGS”. Deveríamos negritar a palavra tags (Morvan, não era TAGS? Sim. A mesma coisa. Só para entender que, em HTML, não importa a caixa de texto. Pode ser maiúscula ou minúscula). Fica assim: Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de <b>TAGS</b>.O Navegador, por causa das TAGS, vai escrevê-la assim:

“Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de TAGS

Observe: abrimos o efeito negrito (B) entre TAGS. Fechamo-lo, com o mesmo parâmetro, mas com a Barra Indicadora de cessação do efeito. O que vier depois vem sem efeito. É texto puro, sem códigos de controle. A maioria das Tags fecha com a Barra. As exceções serão destacadas, quando possível. E se tu quisesses, ao invés do Negrito (B, b, Bold, em inglês) o itálico, para a mesma palavra? Seria bem simples. O comando para abrir e fechar o efeito seria o I ou i (lembre-se de que os efeitos são “insensitivos”, não importa a caixa do texto). Tu dizes: “Ah, tudo bem, mas eu quero formatar um trecho em sublinhado, ao invés do Negrito“. Seria bem simples, de novo. O comando para abrir e fechar o efeito seria o U ou u (U ou u, pois em inglês sublinhado é “Underlined“. Lembre-se, novamente, de que os efeitos são “insensitivos”, não importa se caixa alta ou baixa). Quando estivermos falando sobre NetQueta, ver-se-á que, via de regra, se escreve em caixa baixa e veremos também o porquê. Aqui é similar. Mesmo que o Navegador interprete Código HTML sem ligar para a caixa do texto, escreveremos habitualmente em caixa baixa.

Uma alternativa ao Bold (b ou B) é a Tag-FechaTag <strong> Texto a Encorpar </strong>

Fica assim, em HTML:
Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de <u>TAGS</u>. Veja abaixo:

Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de TAGS.

A mesma frase no Navegador, com o uso de estilos → (para ver como está codificado, via estilo, selecione a frase abaixo e acione, com o botão de atalho do rato, a opção “Exibir Código-Fonte da Seleção” ou similar):

Meu Navegador aceita Comandos HTML, em forma de TAGS

Observação: todos estes efeitos são acionados, com melhores resultados, com o uso de estilos, os quais estão além do escopo deste tutorial.

O Tambor (1979). Revisitando os Tempos Coléricos

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Postado originalmente no Cinema É A Minha Praia, da Valeria Miguez, Lella, a quem agradecemos muito pela hospedagem do artigo e pelas dicas de diagramação.

Gunter-GrassNestes tempos de cólera, como diria Garcia Marques, nada melhor do que um filme para pensar, para refletir sobre o ambiente soturno que assola a todos. A recidiva das ‘soluções mágicas’ não é atributo exclusivo dos trópicos. Antes fora! Este filme, O Tambor, (Volker Schlöendorff, 1979 Die Blechtrommel, Tin Tambor, Tambor de Lata, literalmente), baseado na obra de Günter Grass ( 16 October 1927 — 13 April 2015), parte da Trilogia de Danzig (hoje Gdańsk), cidade de nascimento do escritor, cidade esta que, não só por ser onde nasceu e viveu grande parte de sua vida, mas por vir esta a assumir importante papel no desenrolar das duas grandes guerras (a propósito, não esqueça o fato de o Solidariedade ter nascido ali).

O filme, a exemplo da obra magnífica de Grass, percorre toda a epopeia da família de Oskar, começando pela perseguição a seu avô, ainda nos estertores do século anterior, sendo este abrigado (literalmente) embaixo da saia daquela que viria a se tornar sua avó, Anna Bronski, centrando-se na primeira década do século XX, até a década de 30; mostra a ascensão do nazismo em toda a Europa e seus desdobramentos na vida de Oskar Matzerath (se você, por um momento, se lembrou de Amarcord, não estranhe. Há momentos em que as duas obras se parecem entrelaçar, mesmo que o prisma de ambas difira. Felinni fazia uma retrospectiva bem mais intimista e menos engajada, mesmo quando expõe o fascismo dos ´30), um menino aparentemente normal, mas que, em represália aos costumes (ou ao nazi-fascismo) se nega a crescer.

o-tambor_1979_02O filme mostra um Oskar perturbado pela infidelidade de sua mãe, com seu [dela] primo, mas, nas entrelinhas, fica claro o ambiente plúmbeo que grassa sobre toda a cidade de Danzig. A mãe de Oskar, Agnes, engravida, possivelmente de seu primo, Jan. Ela jura que não terá aquele bebê, pois lamenta a gravidez incestuosa (novamente, o expectador fica em dúvida se a razão da rejeição de Agnes não é pela condição política, extremamente desfavorável, pois não há provisões nem segurança para ninguém). Agnes morre. Sua morte se dá de forma nebulosa, confusa. Mesmo no sepultamento, veem-se os movimentos políticos, pró e contra os descendentes de judeus. Neste intercurso, mostram-se aos poucos os primeiros movimentos com vistas a uma resistência. Neste ínterim, Alfred, a quem Oskar odeia, claramente, contrata uma jovem para ser “dona de casa”. Oskar logo se interessa por Maria. Problema é que Alfred também e é ele quem se sucede no relacionamento, chagando a casar com a “housekeeper”, para desespero do pequeno Oskar. A tensão aumenta, é claro. Prestem atenção na cena em que Oskar tenta matar o futuro filho de Maria, com uma tesoura.

Ciúme, remissão ao Ovo da Serpente, ambos? O que me dizem? Igualmente remarcável é a cena em que a Armada russa invade a mercearia de Alfred e este tenta esconder seu “pin” nazista, na boca. Engasga-se, claro. O soldado russo interpreta como agressão e o mata, para felicidade de Oskar. No funeral de Alfred, um evento faz Oskar crescer. Nada diremos, pois é uma análise diacrônica, e não um “spoiler”!

Veja e reveja O Tambor. Vale demais. Pela beleza da obra, bem como para entender aqueles conturbados tempos (e os d´ora, pois).

Günter Grass é tido, na Alemanha, não só por ter sido laureado com Nobel e com várias outras comendas, como o mais importante escritor, depois de Göethe; nada mal para um alemão que nunca se furtou em colocar o dedo na ferida aberta do nazi-fascismo.

O Tambor (Die Blechtrommel. 1979)

Ficha Técnica: na página no IMDb.

Reapreciação De Matérias Derrotadas: Fim Do Ordenamento Jurídico?

Adolescentes negrosO Legislativo brasileiro, através da Câmara, reapreciou, com manifestas lesões regimental e constitucional, em ambos os casos, matérias surpreendentemente derrotadas, pois tanto a que trata sobre o Financiamento Público de Campanha, bem como a relativa à Redução da Maioridade Penal, as quais pareciam gozar de maioria folgada às suas aprovações, Não o foram. Isto em si, o fato de reapreciação de matérias, já denota grave ameaça ao Ordenamento Jurídico. Um dos princípios basilares do Direito, a não apreciação de matéria vencida ou prejudicada, confere à sociedade segurança jurídica e é a certeza, o norte, a balizadora do respeito à maioria. Sem o princípio citado, a Lei se torna a vontade de grupos, não mais o resultado do debate sobre os temas propostos.

Ao reapreciar as matérias citadas, ‘aprovando-as’ na surdina, Cunha, Presidente daquela Casa, seus pares simpáticos às matérias citadas, bem como ao atropelo regimental | constitucional, agem contra a própria autonomia legislativa, colocando o Poder de legislar como algo acessório, não mais um dos tripés da República. Retiram, querendo-o ou não, a função precípua da Legislatura Estatal da Câmara. Agem como verdadeiros Deslegitimadores da Política (não acredite em coincidências, quando pensar em Operação Lava-Jato) e esgarçam todo o tecido jurídico que mantém íntegra a tríade de Poderes da República.

O grande problema, como se não o bastasse, é que o STF, não o Pleno, mas sim um de seus integrantes, já se manifestou, coonestando o abuso constitucional | regimental. Ou seja, o Custus Constitutioni não cumpriu, ainda, a sua função de Guardião da Carta Maior. Fá-lo-á? Não se sabe. Sabe-se que a sociedade precisa dar uma resposta com a mesma intensidade e em sentido contrário a estes golpistas e deslegitimadores da política.
Nem se entre no mérito das duas proposituras, pois delas já se tratou aqui, sobre a Lava-Jato, aqui, sobre a Redução da Maioridade Penal, mostrada como panaceia, e aqui, onde Sergio Graziano nos mostra o fascismo por trás da Redução da Maioridade Penal.

Mãe e Filha - Carta CapitalApenas conclamar o Pleno do STF, o verdadeiro Custus Constitutioni e a toda a sociedade brasileira a repelir, com veemência, a derrocada dos valores republicanos em prol da banca e das representações (ilegítimas, pois inconfessas das suas reais motivações) das Bancadas da Bala, da Bola e da dona Eva Angélica. Não ao retrocesso.
Pela juventude. Construir escolas. Presídios para quem legisla contra o país, isto sim. Não para a juventude. Para os jovens, escola e um horizonte de possibilidades; uma vida plena.
O Futuro de nossa sociedade depende de ações sensatas, não calcadas no revanchismo nem na exclusão social, que é ao que visa a Redução da Maioridade Penal.
imagem: Criança Belchior, Carta Capital.